Transcrição do I Forum de Moda e Cultura na Cidade do Rio de Janeiro


FÓRUM REALIZADO EM 3 DE SETEMBRO DE 2010
I Fórum de Moda e Cultura na Cidade do Rio de Janeiro


Presidência dos Srs. Vereadores Jorginho da S.O.S e Paulo Messina



Às Treze horas e cinqüenta minutos, sob a Presidência do Sr. Vereador Jorginho da S.O.S, tem início, no Plenário Teotônio Villela, o “I FÓRUM DE MODA E CULTURA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO”.

O SR. PRESIDENTE (JORGINHO DA S.O.S) – Senhoras e senhores, boa tarde!
Dou por aberto o I Fórum de Moda e Cultura da Cidade do Rio de Janeiro, em parceria com os Delegados Setoriais da Região Sudeste da II Conferência Nacional de Cultura e a Comissão Permanente de Educação e Cultura desta Casa de Leis.
A Comissão Permanente de Educação e Cultura é assim constituída: Exmo. Sr. Vereador Jorginho da S.O.S, Presidente; Exmo. Sr. Vereador Paulo Messina, Vice-Presidente; Exmo. Sr. Vereador Reimont.Solicito ao Cerimonial da Câmara Municipal do Rio de Janeiro que conduza à Mesa de Honra as personalidades que irão constituí-la.



A Comissao Permanente de Educação e Cultura e constituída Assim: Exmo. Sr. Vereador Jorginho da SOS, Presidente, Exmo. Sr. Vereador Paulo Messina, Vice-Presidente, Exmo. Sr. Vereador Reimont.Solicito AO Cerimonial da Câmara Municipal do Rio de Janeiro Que conduza à Mesa de Honra como personalidades Que irão constituí-la.

(O Cerimonial conduz as autoridades ao recinto da Mesa)



O SR. PRESIDENTE (JORGINHO DA S.O.S) – A Mesa está assim constituída: Sra. Fátima Negrann, representante dos Delegados Setoriais da Moda da II Conferência Nacional de Cultura; Sra. Lucia Rebello, membro do Conselho e Representante do Instituto Zuzu Angel; Sra. Coordenadora da Grife Daspu, Gabriela Leite; Exma. Sra. Vice-Presidente do Instituto Zuzu Angel, Celina Farias, Coordenadora-Geral do Curso de Design de Moda Instituto Zuzu Angel/Universidade Estácio de Sá.

(PALMAS)

Cumprimentando a todos, quero dizer da minha honra, como Presidente da Comissão de Educação e Cultura, de estar presente em evento tão importante para a moda. Eu, a partir desse momento passo a Presidência para o Vereador Paulo Messina, Vice-Presidente da Comissão, que irá dirigir os trabalhos porque eu tenho compromissos na Casa que me fazem, apesar de todo o meu desejo de permanecer, ter que me ausentar e não poder participar desse evento. Mas, estarei ouvindo todo o evento do meu gabinete.

Obrigado, parabéns e boa tarde!



(PALMAS)

(Assume a Presidência o Sr. Vereador Paulo Messina)

O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Boa tarde a todos. Tenho a honra de registrar a presença do Sr. Sérgio Dutra da Ecos Eventos; Sra. Sílvia Maria Camargo Rocha, representando o Projeto Transforma da ONG Pimpolhos; Sra. Regina Helena, Presidente da ONG Brasil Brasileiro e Sra. Makota Kizandembu, representante dos Delegados Setoriais da Moda da II Conferência Nacional de Cultura e Moda; Sr. Wagner de Oliveira Silva, da Sociedade Civil Watz Consultoria Empresarial de São Paulo; Sra. Clarice Ferreira Silva, Delegada Setorial da Moda do Estado de São Paulo e Sr. Luiz Fortunato, Delegado Setorial da Moda do Rio de Janeiro Moda Viva.

Primeiro, gostaria de agradecer a presença de todos. Como todos sabem, é para dar visibilidade e a importância do papel da moda como manifestação cultural.

A Cidade do Rio de Janeiro é ainda conhecida como capital cultural do Brasil. Por isso a gente fica mais do que feliz e honrado que esse I Fórum esteja acontecendo na Cidade do Rio de Janeiro.

Eu vou ser breve e fazer um relato para vocês do que aconteceu no ano passado aqui na Cidade para vocês entenderem a importância para nós, gestores públicos, desse evento estar sendo realizado aqui e o que nós vamos fazer depois desse evento.

No ano passado, uma empresa alemã que aqui no Brasil se constituiu com o nome de CSA (Companhia Siderúrgica o Atlântico). Ela fez um acordo para ter benefícios fiscais, reduções de impostos, para se instalar na Zona Oeste, sob a alegação de criação de empregos, geração de renda, enfim, essa história toda. Essa empresa siderúrgica foi trazer empregos sim, só que, por que ela veio da Alemanha para cá? Porque ela estava emitindo gases de efeito estufa lá na Alemanha. Não poderia ser feito na Europa porque lá há controles rigorosíssimos, então, vamos produzir num país subdesenvolvido de Terceiro Mundo. Lá a gente produz e o que eles estão fazendo? Eles produzem aqui, trazem os insumos, produzem o aço, poluem e exportam 100% do que produzem para fora.

Isso foi bom para a Cidade do Rio de Janeiro? Somente na questão de geração de empregos. Mas, gera 16 milhões de toneladas de gases de efeito estufa, de CO² e assemelhados, na nossa atmosfera. O Rio de Janeiro não tem essa vocação industrial. O Rio de Janeiro que nós queremos é um Rio de Janeiro com vocação tecnológica, com vocação de turismo e com vocação de cultura. E aí se leia moda aí inserida.

Nós hoje queremos mudar. O que aconteceu com a CSA tem que parar na raiz. Nós temos que dar uma resposta ao setor produtivo. Nós estamos preocupados em produzir conhecimento e produzir cultura, produzir moda, produzir tecnologia e produzir turismo. O Rio de Janeiro é isso. O Rio de Janeiro não é industrial.

Então, fico feliz do Rio de Janeiro estar sediando esse evento. Vamos discutir nesse primeiro painel as idéias e as propostas para o selo de qualidade da moda brasileira, sobre a criação de um possível fundo nacional da moda e as instituições de ensino e pesquisa para o setor da moda.

Tudo o que nós estamos fazendo aqui hoje, não pensem que será aproveitado somente pelo setor da moda. Pensem que a gente está criando uma possibilidade de ampliar consideravelmente o papel da moda na economia da Cidade do Rio de Janeiro e não só, mas de todo País. Mas especialmente para que o Rio de Janeiro se firme como capital cultural do Brasil e de uma vez por todas afaste esse risco de tornar a Cidade do Rio de Janeiro uma cidade industrial que é uma política que a gente é completamente contra.

Então, em vez da gente ficar respondendo somente não à fábrica, não às fábricas, vamos sim responder com uma agenda positiva de sim à cultura, sim à moda, sim à tecnologia e sim à geração de conhecimento. Então, nós não estamos aqui para dizer não a eles, mas sim a nós.

Era isso que eu queria dizer para vocês. Também não vou me alongar muito porque vocês não vieram aqui para ouvir político falando, mas sim para ouvir os especialistas falarem. Então, eu passo a palavra para a Sra. Vice-Presidente do Instituto Zuzu Angel, Celina Farias.

(PALMAS)

Quero, antes, pedir licença para registrar a presença da Sra. Vivi Martins, da Associação Brasileira de Museologia e do Sr. Carlos Alberto Reis da Copamanga S/A – Centro Cultural Cartola.

Com a palavra a Sra. Celina Farias.



A SRA. CELINA FARIAS – A todos os presentes bons tarde! Para nós do Instituto Zuzu Angel é uma alegria estar aqui. Nós fomos uma das primeiras ONGs lutando pela moda no Brasil. O Instituto foi fundado em 1993 e, já em 1995, nós criamos o primeiro curso de nível superior de moda. E, de lá para cá, nós vimos vivenciando durante esses 15 anos a importância da moda como cultura. Então, esse movimento nacional que parte desse Estado, das cidades, e se projeta até Brasília, em termos de considerar a moda parte da cultura, para nós é uma alegria, uma satisfação, ver que aquela sementinha que, junto com outros grupos, nós plantamos há tantos anos estão começando realmente a produzir seus frutos.

Todo mundo sabe aqui – e acho que todo mundo aqui é ligado à moda e ao artesanato e à arte – que o lugar da sociedade brasileira em relação à moda sempre foi muito menor do que a moda merece ser. Portanto, movimentos como esse que vão provar para a sociedade que não é nada disso, para todos nós eu acho que são uma grande alegria.

Eu vou falar sobre um tema que a gente desde o começo vem notando que é o produto nacional com selo de qualidade.

Então, a gente vai ver que o produto de moda é um produto cultural manufaturado. Se a gente parar para compreender a moda, os seus produtos e os seus mapas, a gente verá que isso pode auxiliar o indivíduo nos diferentes desempenhos e papéis assumidos na vida cotidiana e perante a sociedade.

Então, a gente vai olhar: o que a moda é nesse olhar? A moda é um produto imaterial, um produto simbólico, intangível, que atende a um desejo. Já a roupa é um produto material, tangível, que atende a uma necessidade.

A indústria da moda, seus principais agentes e suas organizações não podem apenas produzir o produto de moda. Eles têm que difundir a idéia e a cultura da moda. Aí é que a moda se torna uma coisa mais abstrata do que se tem em relação à roupa.

Hoje a gente discute muito e é uma linha de pensamento que moda se encaminha para o produto. E vira o design de moda. A gente concorda. Então, a gente vai ter um olhar sobre a grande declaração de Kotler: “Um produto é qualquer coisa que possa ser oferecida no mercado para satisfazer a uma necessidade ou um desejo. O conceito de produto não se limita a objetos físicos. Na verdade, qualquer coisa capaz de satisfazer uma necessidade pode ser chamada de produto. Além dos bens tangíveis, podemos considerar como produtos os serviços – atividades ou benefícios oferecidos para a venda, os quais são essencialmente intangíveis e não resultam na posse de nada”.

O que será a indústria de moda? A indústria da moda é uma indústria produtora de bens de consumo por impulso. Até bem pouco tempo, a indústria da moda ignorava itens como qualidade, inovação e satisfação do consumidor, elementos pertinentes ao design.

Com a globalização dos mercados e a consequente situação de oferta maior que a procura, o consumir escolhe a solução que melhor atenda a suas necessidades, que melhor resolva seu problema, com otimização da relação custo versus benefício.

O novo consumidor, portanto, é cada vez mais consciente e comprometido com o mundo em que vive.

E aí aparece a necessidade de um selo de qualidade, que é uma luta que vem se tentando há muito neste País. O selo de qualidade é a forma dada, sobre representação gráfica da certificação conferida, àqueles que inscreveram seus projetos à avaliação de qualidade a ser conferida por especialistas no campo específico ao qual se destina – no caso, ao produto de moda.

Os responsáveis pela avaliação devem garantir a conformidade do produto em relação a determinados padrões de qualidade que permitem a diferenciação e a agregação de valor aos produtos confeccionados.

A demanda por esse tipo de certificação vem crescendo tanto no mercado brasileiro como internacional. Atualmente, diversos segmentos regionais de moda têm acompanhado o setor têxtil na criação e normatização de selos de qualidade. No entanto, ainda estamos muito distantes de um selo de qualidade que tenha a identidade de produto nacional brasileiro de moda como foco.

Para que alcancemos esse objetivo, precisamos estar atentos à necessidade de formação de profissionais comprometidos com a qualidade e identidade do produto nacional. Esse tipo de profissional não pode ter sua imagem associada ao “jeitinho brasileiro”. Precisa estar inserido em um processo contínuo de formação que lhe possibilite diferenciar cultura nacional de um modelo estereotipado de cultura brasileira amplamente divulgado no exterior.

Não podemos ser representados por retalhos culturais que muitas vezes depõem contra o reconhecimento de uma imagem positiva de nossos produtos. Não podemos restringir a produção de moda brasileira a conhecimentos técnicos que não se reciclam e que se tornam obsoletos com o avanço de novas tecnologias.

Precisamos formar profissionais com visão de futuro e aptos a pensar alternativas à demanda crescente de produtos com qualidade que atendam a critérios de sustentabilidade.

A formação deste profissional não se dá apenas nas salas de aulas. Não se limita ao campo teórico. Do mesmo modo não se limita a um aprender a fazer sem que haja uma reflexão sobre esse fazer.

Precisamos de mão de obra competente e gestores capazes de gerenciar as múltiplas competências que compõem o mercado da moda. Precisamos que os profissionais de moda – independente do setor que atuem – tenham uma visão de todo o processo produtivo para que compreenda a importância de sua parte na construção de um produto final que esteja apto a receber o selo de qualidade que lhe dará um diferencial competitivo no mercado.

Sem este olhar sobre a formação dos profissionais do campo da moda, o selo de qualidade tende a ser apenas um instrumento de poder nas mãos de minorias e em nada contribuirá para uma identidade da moda nacional.

Termino dizendo uma frase muito importante: “O incapaz se cobre; o rico se enfeita; o presunçoso se disfarça; o elegante se veste. Honoré de Balzac”.

E Gabrielle “Coco” Chanel já dizia: “Elegância é tudo que é belo, seja no direito seja no avesso”.



(PALMAS)



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Passo a palavra, agora, à Sra. Coordenadora da Grife Daspu, Gabriela Leite.



A SRA. GABRIELA LEITE – Boa tarde a todos. Obrigada aos organizadores pelo convite para estar aqui discutindo um pouquinho de moda.

Conversando aqui com uma amiga, eu estou um pouco nervosa. Já viram o tamanho dessa cadeira, que coisa impressionante? Parece a cadeira da Rainha da Inglaterra. E isso te deixa um pouco inibida. E toda a formalidade e tal.

Falando um pouquinho da Daspu, que foi uma grife que criamos. Sou do Movimento das Prostitutas. Tenho 30 anos de militância, e durante todos esses anos a gente quis que a as prostitutas aparecessem na sociedade como qualquer outra mulher. E sempre tivemos dificuldades de financiamento para nossas questões, porque como nosso trabalho não é um trabalho de tirar essas pobres meninas, coitadinhas, da prostituição, para viver nesse mundo ideal do lado de cá, a gente não tem financiamento. Porque os financiamentos que existem são financiamentos assistencialistas.

Então, sempre pensei de a gente poder ter um projeto sustentável e que também fosse um projeto político. E aí, em conversa com minhas colegas, a gente resolveu criar uma escola de moda, sempre pensando no estereótipo que se tem das prostitutas. Porque as pessoas dizem: “Ah, essa mulher está vestida igual a puta”. O que é se vestir igual a puta, não é?

E tenho um amigo de muitos anos, designer, e conversando com ele a respeito disso – isso foi em 2005 – ele falou: “Eu já sei o nome: é Daspu”. Era um momento em que a Daslu, em São Paulo, estava com alguns problemas, aparecendo muito na Imprensa. Então, ele teve essa “sacação”. E aí a gente resolveu começar a trabalhar, sempre com muitas dificuldades, porque não somos profissionais da moda.

Eu gostei muito de toda a explanação da Celina. E quero, depois, falar sobre algumas questões relativas a isso.

E como não somos profissionais da moda, resolvemos ir articulando-nos para depois apresentar esse nosso projeto à sociedade. Mas um dia qualquer, não sei como isso aconteceu, provavelmente porque fazemos muitas reuniões em botequim, alguém ouviu o que estávamos falando e não tínhamos absolutamente nada a não ser a logomarca, que meu amigo Silvio de Oliveira já havia feito. Ele criou o nome e a logomarca. E saiu uma pequena frase no Elio Gaspari, no Globo, dizendo que as prostitutas no Rio de Janeiro estavam criando uma grife chamada Daspu. E dizia que tinha o apoio de uma instituição norueguesa que até hoje não sabemos que instituição é essa.

E isso foi uma grande história. A Imprensa começou a nos procurar para saber o que era isso. Começamos a falar, mas sem termos nada. Não tínhamos nada. Tínhamos a marca. E depois de uma semana de Imprensa geral e absoluta, recebemos uma notificação extrajudicial da Daslu, de São Paulo, dizendo que tínhamos 10 dias para deixar de usar esse nome porque estávamos – e isso estava escrito no papel – denegrindo o nome da Daslu.

Conversamos com nosso advogado e entregamos essa notificação a Joaquim, da Coluna “Gente Boa”, no Globo. E a coisa saiu e começou uma história tão grande com relação a nós, de apoio a nós, inclusive, de toda a Imprensa e da sociedade, como consequência. E, até hoje, em meus melhores sonhos, quando pensamos a Daspu, eu não imaginava que seria dessa forma.

Bem, aí começa a grande história. A gente tem um baita nome, a gente precisa fazer moda. E eu sempre gostei de moda. Só que a gente não tinha profissionais conosco. A gente fez umas primeiras camisetas, essa coisa, mas a gente não desenha moda. Não é artista, não é técnico de moda, nada disso.

Fomos atrás de ajuda. Uma das primeiras ajudas que pedimos foi ao Sebrae, para a questão de como gerir tudo isso, como fazer com que o negócio se tornasse, de fato, um negócio. O Sebrae se negou a nos ajudar. Eu sempre falo isso porque é muito importante falar disso para se falar de nossa trajetória e como as pessoas pensam a questão da moda e de quem está querendo fazer alguma coisa, que é nosso caso.

Depois, para a questão da moda em si, procuramos o Instituto Zuzu Angel, na figura da Celina, que nos deu uma primeira ajuda. E fomos caminhando sem ter Capital de Giro e sem ter um negócio gerido. Porque conheço um montão de ONGs, de associações, porque estou nisso há 30 anos, mas eu nunca geri um negócio. É muito diferente. Porque entre a questão da arte, que considero moda, e a questão de se chegar ao produto final, tem-se que gerir o negócio. Mas não tínhamos isso. E fomos indo, conforme achávamos que poderia se trabalhar um negócio.

A partir daí, conversando com estilistas e tal, conseguimos um grande apoio de estilistas, principalmente – e eu não sei o porquê – de Belo Horizonte. Uma Faculdade de Moda em Belo Horizonte passou a nos ajudar muito. Temos duas coleções feitas por estilistas dessa faculdade.

Minha grande preocupação era que a gente fizesse moda, mas moda de verdade. Claro que com nosso olhar. As meninas apresentavam os modelos e a gente ia falando o que achava ou deixava de achar da história. Temos um olhar, mas não sabemos fazer, não somos técnicas e nem artistas nesse aspecto.

E aí a gente foi indo. A gente já apresentou várias coleções, mas ainda sem ter um negócio estruturado. E, ultimamente, conseguimos um apoio de uma instituição americana. Ela dá esse apoio técnico de como gerir uma instituição. “Mash” é o nome dessa instituição que está nos ajudando.

E agora em novembro nós vamos apresentar uma nova coleção com apoio de um grande estilista, outra vez de Belo Horizonte, Ronaldo Fraga. E a verdade é essa, o apoio dos técnicos e artistas aqui do Rio de Janeiro é quase nenhum. Alguma ajuda o que só mostra que a história é difícil. Tivemos apoio do Zuzu Angel e outros componentes. Mas não existe, me parece, na Cidade do Rio de Janeiro, algo estruturado para ajudar. Quem faz moda, faz moda a partir das suas comunidades. Dizem, inclusive, que, nós que fazemos esse tipo de moda, não fazemos nada. Eu já ouvi esse comentário. Eu discordo. Nós fazemos moda, sim, e eu acho que o grande barato é a diversidade.



(PALMAS)



E a gente precisa ter o apoio, sim, dos bambambans que estão na faculdade trabalhando e que estão estudando e tal, e essas pessoas podem vir trabalhar com a gente, também, para que cada vez mais essa moda fique sofisticada com o olhar das nossas culturas e comunidades, mas com o apoio técnico e profissional do pessoal que está estudando moda. Porque eu acho que a Universidade, tem que estar junto com a comunidade sempre, não só na moda, mas em todos os aspectos.

E aí, sim, a gente pode chegar a ter uma grande indústria da moda na Cidade do Rio de Janeiro, como estava falando o nosso Vereador Paulo Messina. Todo mundo junto, nós podemos chegar a um Conselho Nacional de Moda fenomenal. O Rio de Janeiro pode chegar no Conselho Nacional com força, estar discutindo até o Fundo Nacional de Moda, estar trabalhando os nossos conceitos de moda sem logos exarcebados, nada disso, mas politicamente essa é a minha posição política e a experiência que nós estamos adquirindo com muito sacrifício, de 2005 para cá, para poder colocar o nosso negócio de pé e fazer moda de verdade. Nós queremos, sim, de verdade fazer moda. Acho que é isso.

Muito obrigada.

(PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Obrigado, Gabriela. Obviamente que estou anotando as perguntas, que quero fazer aos oradores junto com todo mundo. Só queria pedir licença, antes de passar ao próximo orador, fazer um comentário sobre o que você falou. Realmente, para todos saberem, para quem está aqui, a gente fica meio oprimido pelo tamanho das cadeiras e tudo, isso é verdade. Só que para quem está nessa cadeira tem um truque, quando se sentir muito oprimido tem uma almofadinha aqui que a gente coloca e senta em cima. Hoje, se precisarem, me avisem. É brincadeira. É para vocês saberem o seguinte: essa Casa aqui é do povo. A Casa é de vocês e vamos trabalhar juntos.

A próxima oradora inscrita é a Sra. Lucia Rebello, membro do Conselho e representante do Instituto Zuzu Angel.

A SRA. LUCIA REBELLO – Primeiro, eu queria agradecer de estar nesta Casa. É a primeira vez. E estar nesta Casa é uma honra e representando a Hildegard e representando a moda é uma honra maior ainda. Concordo plenamente com a Gabriela: quando a gente conseguir unir essa diversidade é que nós vamos chegar a algum lugar. E concordo também com a questão da pauta de um financiamento não só para as organizações como a Daspu, que é uma a que tenho muita admiração, como professora de Antropologia. Então, é um ponto que para mim é muito caro, muito rico, mas também, para que o ponto de ensino e pesquisa no Rio de Janeiro nós também temos uma limitação muito grande em relação ao campo de ensino e pesquisa no Rio de Janeiro verba para isso, principalmente em função de que a moda constituída como ensino, ela é muito recente e, em sendo recente, não temos mestres e doutores que possam fazer via órgãos públicos a solicitação dessa verba.

Então, isso é uma coisa que também nós que estamos no campo acadêmico, estamos lutando para que a gente possa constituir realmente um espaço democrático onde as pessoas tanto do campo das organizações não governamentais quanto do campo acadêmico consigam estruturar uma única fala em termos de Fundo Nacional, de uma verba para o campo da moda para pesquisa e apoio a essas organizações.

Então, eu senti necessidade, como professora, de me manifestar, mas eu faço questão de ler o texto que a Hildegard preparou para esse momento que fala exatamente desse Fundo Nacional, ela que representa o Instituto Zuzu Angel, que também vindo de Minas, fez aqui no Rio de Janeiro como uma grande estilista e levou o nosso nome ao campo internacional. Então, eu peço licença para ler a fala da Hildegard, com o respeito que ela deve ter de todos nós.

Hildegard coloca da seguinte forma:



(LENDO)

Gostaria de iniciar minha fala nesta Mesa retomando o texto do Manifesto “A Cultura está na Moda”, elaborado pelos delegados setoriais da Moda na II Conferência Nacional de Cultura. Acredito que todos que estão vivenciando este momento de reconhecimento da moda no cenário da cultura nacional, compartilham o sentimento expresso no parágrafo de abertura do texto do manifesto:

“Nunca antes na história deste País tivemos a oportunidade de fazer arte sentindo o gosto de fazer parte.”

Acredito que compartilham também a certeza de que muito caminho temos a percorrer até que este processo seja realmente efetivado. Nesse caminho, não podemos perder de vista que a moda hoje exerce um papel de destaque na economia nacional, representando o quarto maior PIB nacional. A este status agregasse o de líder na geração de empregos.



(INTERROMPENDO A LEITURA)



E isso não só para a moda, quando estamos falando no conceito do fashion, mas da moda em todos os espaços; da moda do mercado, da moda de Petrópolis, da moda de Teresópolis, de Friburgo, de todos esses setoriais e, principalmente, da moda do artesão que está lá escondidinho, mas produzindo cultura para nossa cidade.



(LENDO)



O texto do manifesto destaca a necessidade de se reconhecer definitivamente a moda como arte e cultura:

“Assim como a cultura está na moda, chegou a hora da moda ser entendida como arte e cultura.”



Como define a Jornalista Ruth Joffily (1991):



“A moda é inegavelmente, um fenômeno cultural desde os seus primórdios. É um dos sensores de uma sociedade. Diz respeito ao estado de espírito, aspirações e costumes de uma população”.



(INTERROMPENDO A LEITURA)



E aí eu peço licença para retomar a fala da Celina quando ela diz que moda não é roupa; moda é comportamento, moda é atitude, moda é pensamento. Então, moda vai muito além de uma simples indumentária, de uma simples peça do vestuário.



(LENDO)



É impossível não me emocionar ao pensar que nos anos 60 esta ideia de uma identidade brasileira de moda já estava presente no trabalho de Zuzu Angel- estilista que gerou o nome e o conceito do Instituto Zuzu Angel de Moda que, desde 1993 vem buscando preservar a moda com base na identidade e na cultura brasileira.

Ainda que o Rio de Janeiro seja o foco de nossas ações e que não devamos desconsiderar as diversidades regionais de um país de dimensões continentais como o nosso, é preciso fortalecer nosso discurso identitário.

Precisamos unir forças com os demais regionais no sentido de promover a institucionalização da Moda no Ministério da Cultura por meio da criação: do Fundo Nacional da Moda; do Comitê da Moda que tem a função de orientar e avaliar, de forma consultiva, as necessidades financeiras dos programas e ações propostos ao FNC; e da Agenda Propositiva de Trabalho com o Ministério da Cultura, como propõe o manifesto.

O momento é de buscarmos a unidade na diversidade em prol de uma representatividade legitimada nos interesses de todos.

Talvez possamos nos apropriar da metáfora antropofágica do movimento modernista para falar da natureza híbrida da cultura e da moda brasileira não como uma limitação, mas como uma possibilidade.



(INTERROMPENDO A LEITURA)



Além disso, também pretendemos que este seja, dentro dessa proposta, que haja realmente uma Agenda Propositiva de Trabalho junto a esse Ministério. Não adianta ficarmos só no papel. Nós precisamos de ações concretas que realmente façam essa moda do Rio de Janeiro ter uma cara de moda internacional, mas muito mais, moda Brasil, moda identidade, absorvendo todo o hibridismo cultural que a ela pertence.



(LENDO)



O processo de globalização que abarca todos os setores da sociedade contemporânea não deixaria de fora justamente às manifestações culturais, tão sensíveis à dinâmica social, nelas se incluindo a moda.

O processo de hibridização coloca no mesmo plano as diversas manifestações dessa cultura contemporânea rompendo as fronteiras estabelecidas pela lógica da modernidade, onde o culto deveria estar nos museus e o popular nas praças e feiras.

O tradicional e o moderno, portanto, já não sofrem uma oposição tão evidente, pelo contrário, convivem em um mesmo cenário social. Nesse sentido, surgem novas formas de identidade cultural, que já não podem mais ser ligadas apenas a um território.

É preciso que a moda se constitua como cultura de valor, aquela em que todos – e cada um – se envolvem no atendimento de interesses comuns de seus ambientes e relacionamentos. Não basta buscar a excelência em um dos setores. Todos devem ser tratados de forma integrada nas estratégias, nos sistemas, produtos e serviços, para que atuem em sinergia na busca de resultados.

Gostaria de concluir a minha fala destacando importância de espaços de diálogo e reflexão sobre os caminhos da moda no Brasil. Espero que os frutos deste 1º Fórum de Moda e Cultura do Rio de Janeiro possam se fazer sentir no Seminário Nacional da Moda que se realizará em setembro deste ano.



(INTERROMPENDO A LEITURA)



Mas não restringindo a estes. E eu gostaria muito que a Gabriela fosse uma das nossas entrevistadas de narrativas. Faço já o convite em nome dos meus alunos que estão aqui trabalhando nessa pesquisa.



(LENDO)



Promover a moda, enquanto livre expressão da cultura brasileira, é preservar nossas raízes e resgatar nossa história. Nesse sentido, o Instituto Zuzu Angel tem desenvolvido projetos de preservação da memória da Moda do Rio de Janeiro, através da narrativa de personalidades do cenário da moda, tendo como ponto de partida os membros da Academia Brasileira de Moda – órgão estatutário do Instituto Zuzu Angel, tem como finalidade colaborar com o desenvolvimento das atividades da moda, resguardando a memória de grandes vultos nacionais que se destacam em tal campo de atividade.

Promover a moda, enquanto atividade produtiva é gerar empregos e captar divisas para o nosso país. Para isto, o Instituto Zuzu Angel tem buscado, através de parcerias, colaborar com a formação dos profissionais de moda tanto no campo acadêmico como no campo de projetos sociais.

Conquistar fronteiras, através do reconhecimento internacional de nossa moda, é a reafirmação do orgulho de ser brasileiro. É começar o sonho e o trabalho de Zuzu Angel no campo da moda através do investimento na formação de novos talentos da moda nacional.



(INTERROMPENDO A LEITURA)

Em nome da Hildegard, agradeço a todos.



(PALMAS)



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Tenho a honra de registrar a presença do nobre Vereador Reimont, que é membro da Comissão de Educação a Cultura, a quem convido para fazer parte da Mesa.



(PALMAS)



Passo a palavra agora a Sra. Fátima Negrann, representante dos Delegados Setoriais de Moda da II Conferência Nacional de Cultura.



A SRA. FÁTIMA NEGRANN – Boa tarde! Eu gostaria de agradecer a todos, à Celina aqui pela ajuda que vem dando ao Fórum, a Gabriela também, ao Instituto Zuzu Angel, a Estácio, também, que está dando suporte, enfim, à Câmara e à Comissão de Educação e Cultura que veio formalizar o Fórum, através da Comissão, abraçando essa idéia de hoje a moda ser conhecida como nosso patrimônio cultural. Enfim, meus Delegados que a apoiaram da mesma forma que representantes da Região Sudeste, Estado de Minas Gerais; Luiz Fortunato, que também é Delegado no setor de moda do Rio de Janeiro.

Estou um pouco nervosa, é um momento até histórico para nós da Comissão. Essa almofada é muito boa realmente. A cadeira causa certa impressão de, – não é?

Eu gostaria de passar – não é uma informação, mas uma mensagem para todos, porque hoje estamos aqui reunidos – somos poucos. Tínhamos um outro trabalho, mas esse trabalho foi para outro estágio, foi para o Estado da Bahia, lá houve um encontro estadual, também. E foi muito bom. Aqui, no Rio de Janeiro, o I Fórum, é o municipal e a idéia é expandir esse fórum.

Hoje é o I Fórum, chamado Cultura e, mais tarde, pode se tornar melhor.

Eu gostaria de fazer um breve resumo do que seria o fórum.



(LENDO)



O I Fórum de Moda e Cultura é nossa grande oportunidade de dar um salto na qualidade na formulação, conseqüentemente, na execução de políticas públicas e culturais relacionadas à moda, em sua relevante economia criativa; promovendo intercâmbio entre os estados da Macro Região Sudeste e adensar o diálogo com outros estados do Brasil. Entendemos, portanto, que o maior sentido da luta, por intervenção de políticas públicas que o estado efetua é fortalecer a moda, como cultura, com capacidade nacional, e possibilitar uma agenda de acordo com as diretrizes já propostas, que equilibre as relações de toda a cadeia produtiva do mercado, construindo assim um novo momento em que todos tenham não apenas o direito de colocarem suas idéias, mas também de dividirem a construção desse processo evolutivo, e não apenas direcionado para uma única camada. É um conjunto de etapas consecutivas, acreditando que hoje a moda venha a se fortalecer pelo setor cultural, trabalhando com a descentralização dos principais eventos nacionais e com propostas que tenham, não somente interesses do mercado totalmente concentrado em uma única camada da sociedade, e sim, distribuídas para todos.

Acho que todos nós, que estamos empenhados, somos um pequeno grupo, mas, lá na frente, podemos ser um grupo bem maior. Acredito que esse trabalho tem condições de ir à frente, com a participação, não só dos que estão presentes à Mesa, mas de todos que vieram a contribuir para esse processo.

Enfim, a palavra é de agradecimento.

Acredito que esse não é o único trabalho. Ele irá tornar-se um trabalho muito mais forte.



(INTERROMPENDO A LEITURA)



Eu gostaria de agradecer a todos aqui, pela oportunidade.



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Quero convidar, agora, a Exma. Sra. Secretária de Políticas Culturais, Didi Rezende, representando o Ministério da Cultura, para fazer seu pronunciamento, da Tribuna.

Vou refazer a fala:

Convido o Sr. Afonso Luz, representante do Ministério de Cultura, Diretor e Secretário de Estudos e Monitoramento de Políticas Culturais, para fazer uso da Tribuna.

Por favor.



(PALMAS)



O SR. AFONSO LUZ – Fico muito feliz, em nome do Ministério da Cultura, de ver esse processo na Cidade do Rio de Janeiro, com a acolhida da Câmara Municipal, nesta tarde de hoje, e de vocês todos. Um processo que começou na Conferência Nacional de Cultura, para que o setor de moda ganhasse, não somente o reconhecimento do Ministério da Cultura, mas ganhasse um espaço de política cultural, uma possibilidade de alocar recursos regularmente no setor, principalmente nessa área de criação, que diz respeito a uma política cultural e que o Ministério da Cultura vem aqui, agora, dialogar com vocês, qual a melhor estratégia para construir isso. Queria aproveitar já para anunciar – foi falado aqui do fundo nacional da moda – a gente lançou agora uma primeira versão do fundo nacional de cultura, que foi enviado ao Congresso, na reforma da nova Lei Rouanet. E lá já existe um programa onde a moda está considerada. A gente tem um programa, onde tem o artesanato, a moda, o design, a arquitetura e a cultura digital, como cinco campos essenciais ao desenvolvimento da economia no país e ao desenvolvimento de uma indústria criativa no país. Acho que isso já é uma primeira concretude do desejo de vocês, um primeiro ganho que acho que todos que estão aqui estão construindo com o país.



(PALMAS)



Quero dizer que a Cidade do Rio de Janeiro vai ter uma importância essencial, para que esse país atinja, de fato, esse padrão global dos eventos que vamos ter em 2014, 2016, com Copa do Mundo e Olimpíadas, que vai ser o grande evento. Acho que no momento das Olimpíadas, a gente vai chegar a uma maturidade de agenciamento desses potenciais do país todo, dentro de uma economia global, é algo que o Rio de Janeiro se reposiciona no país, mas reposiciona no mundo, também, com uma cidade criativa, como uma cidade global. E esse momento vai ser essencial para todos nós, no país. Isso tem que ser pensado. Essa agenda, que é uma agenda esportiva, mas é também uma agenda cultural de grande importância, e que a gente não pode perder a oportunidade. Tenho conversado muito com a Secretaria Municipal de Cultura. A Secretaria Estadual de Cultura está aqui também presente. A gente tem lançado mão de estratégias, criando ações que, em breve, devem ser lançadas como um programa que estamos chamando de “Culturas Urbanas e Cidades Criativas”, para 12 sedes da Copa e para essa grande capital mundial, que vai ser o Rio de Janeiro, como sede das Olimpíadas.

Esses cinco setores são vitais nesse programa – volto a repetir: o artesanato, a moda, o design, a arquitetura e a cultura digital. Além dessa agenda, a gente precisa atentar para uma agenda histórica do país, também, que uma coisa nova que estamos vivendo, que é a inserção das classes C e D na esfera de consumo. Isso é um fator dos últimos cinco, seis anos, que vivemos na última década. E hoje temos a maioria da população brasileira inserida na atividade de consumo, na atividade econômica do país, esses últimos meses marcaram que o maior volume de recurso que gira a economia brasileira é oriundo da classe C, e isso dá outra perspectiva para a gente pensar a democratização da cultura, a democratização da moda, a democratização dos valores que, até então, eram muito bem cultivados e muito bem estabelecidos, mas pouco acessíveis para a maioria da população que não tinha convívio corporal, cotidiano com esses bens de grandes valores agregados.

Acho que se a gente pensar nesse fenômeno, ele é também – gosto muito de brincar que a gente precisa ter um modelo para essa nova etapa. Para mim, é o modelo das sandálias havaianas, que é um objeto barato, com altíssimo design, com capacidade de tradução gigantesca e que projeta o Brasil em todos os cantos do mundo, onde ela está, sabemos que o país está, que o que há de mais sofisticado no Brasil está presente, desde nossa sensualidade, nossa corporalidade, que é comemorada, é vivida, é cantada até a simplicidade e a necessidade de um espaço público aberto, de um espaço de transitividade, de um espaço de troca. A gente vive em um mundo onde as sandálias Croc vendem a higiene dos pés – uma paranóia dos calçados, e tudo o mais e a gente tem uma borrachinha que bota os pés nas ruas, quase descalços e atravessam os espaços formais e informais. Isso é uma tradução do Brasil para o mundo. E temos que pensar. Talvez esse seja o grande modelo das classes C e D para expor a sua cultura da moda no mundo contemporâneo. Acho que isso é um sinal também. São dois sinais que se reiteram nesse circuito de uma agenda histórica do Brasil.

Mais do que isso. Acho que, aqui, no Rio de Janeiro, se discutiu, nos últimos tempos, muito a questão do fundo do pré-sal. Tivemos mobilizações sociais em torno da partilha dos royalties do pré-sal. Acho que a gente tem aí outro elemento forte na sociedade brasileira, que eu diria que é o pré-sal da sociedade brasileira, nos próximos anos, é que a gente vai ter, em 20 anos, um grande bônus demográfico no pais. Isso é uma coisa que já está sendo atentado. E vem uma discussão muito forte disso, nas duas próximas décadas. Até o ano de 2020, até o ano de 2030, o Brasil vai viver uma situação social, em que a maioria da população brasileira está na faixa jovem de plena atividade econômica, de plena criação e inovação, de pleno consumo e produção, também, isso é outra revolução social que aparece aí, é uma situação, por conta dos índices de natalidade, por conta, também, da segurança, da saúde alimentar, salário mínimo, tudo que a gente vê de progresso redunda em uma nova situação. E o Brasil, provavelmente, nós todos aqui, viveremos o que aconteceu nos anos 50, 60, 70 na Europa, na França, nos Estados Unidos. Isso talvez seja o grande esteio de nossa sociedade, o grande pré-sal do país, a grande natureza que vai emergir aí, se transformando em riqueza econômica e se transformando em um modelo de inovação vendido pelo mundo, consumido pelo mundo, e que o mundo todo vai querer também vir para cá, para aprender como é, como esse novo conceito de sociedade e esse novo conceito de cultura vai ser vivido aqui como um lugar privilegiado.

Então, isso é algo que a gente tem que atentar. Tudo isso que estamos fazendo, aqui, agora, tem que ter um horizonte maior do que nossos desejos imediatos de reconhecimento, têm que ser um movimento da sociedade para, nas oportunidades que estão se abrindo, a gente poder, de fato, construir um outro modelo de país.

Acho que a oportunidade, a realidade exige de nós também que nós todos criemos novas condições para nossos próprios trabalhos, nosso próprio empreendimento. É um processo que todos precisamos fazer em conjunto. Precisamos reinventar o país, a gente precisa reinventar as instituições. A gente vive as dificuldades do Ministério da Cultura, quando a gente vai apoiar o setor de moda, a gente tem um estado ainda que quer que a gente lide – a gente só tem leis e uma estrutura de gastos públicos feita para obras de infra-instrutora ainda, obras que são fundamentais para construir pontes, viadutos, usinas hidroelétricas. Como a gente vai fazer, de fato, com que o gasto público tenha uma qualidade e uma possibilidade de desenvolver o que é mais inovador na sociedade, quando a gente tem uma amarra jurídica? A gente precisa mudar as instituições brasileiras. O Legislativo tem que discutir isso de forma sistemática, como a gente lida com a inovação. Um colega de governo nosso, do Ministério da Ciência e Tecnologia, outro dia, estava explicando. Se pegasse todo o dinheiro de ciência e tecnologia que está investido em inovação e não fizesse nada, deixasse voltar para o caixa geral da União e invés de a gente ter que comprar os produtos mais baratos, a gente comprasse os produtos mais inovadores da sociedade, o estado comprasse para fazer uma biblioteca pública, ele pudesse comprar as cadeiras mais inovadoras, as estantes mais inovadoras, os livros mais inovadores, para financiar a inovação na sociedade, não precisariam nem do Ministério da Ciência e Tecnologia, não precisava de fundo algum para a inovação. A sociedade brasileira conseguiria financiar com gastos públicos toda a inovação de que a sociedade requer. Foi assim que os americanos fizeram, foi assim que a Europa fez. A gente tem que comprar a caneta que não escreve, a cadeira que dura seis meses. Isso é uma revolução que a sociedade precisa viver, para poder absorver setores inovadores no interior do Estado. Eu gostaria de poder – os sites que a gente faz, e todos os gastos que a gente tem em comunicação, financiar o principal do design brasileiro. Esse design vai desenvolver-se, vai repercutir-se sobre a moda, vai fazer com que essa economia gire que essa criatividade passe de um produto a outro, e que a gente consiga criar um tecido inovador e criativo, de fato, na sociedade brasileira.

Acho que isso é um desafio. Vejo como eu, o Presidente aqui, deste fórum, uma pessoa jovem que veio com um discurso, muito bonito, falando muito bem da tecnologia e da cultura como uma agenda prioritária para o desenvolvimento da cidade acha que a gente precisa pensar nessa instituição nova, capaz de fazer isso com um fundo e com leis adequadas e com um consenso na sociedade brasileira de que o investimento público é decisivo para o desenvolvimento e que o país vai conseguir assumir um novo patamar nessa economia mundial de liderança.

Não vão ser os suíços que virão aqui gerir os estádios brasileiros, gerir a Copa do Mundo, mas vamos ser nós a disputar os próximos lances dessas rodadas mundiais. E a cultura é fundamental nisso. A cultura é sempre chamada nesses eventos para animar a festa. Não somos mais a cereja do bolo, mas somos o arroz de festa: ficamos lá, toda hora, chamamos... Vai ter jogo de futebol... Montamos um palco antes para o pessoal que está na fila ver.

Outro dia, numa reunião de governo, brincando, ajudando lá, disse: imaginem vocês chamarem o Ronaldinho Gaúcho para fazer “embaixadinha” em um show do Jorge Ben aqui. Vai ficar lá três horas, Jorge Ben dando uma “palinha” a mais, uma “palinha” a mais, e o Ronaldinho lá com a bola fazendo “embaixadinha”! O “cara” passou a vida inteira dele para jogar 90 minutos e não passou a vida para subir no palco e fazer graça.

A cultura também tem que ser isso: tem que jogar 90 minutos, tem que entrar em campo; não é ornamento, mas uma economia potente. É preciso que atentemos para isso. Muitas pessoas já estão nos mostrando isso. Na Inglaterra, por exemplo, agora com as Olimpíadas, aconteceu uma situação drástica: todos os fundos públicos para financiar a cultura passaram a financiar a cultura associada ao esporte. E aí, as pessoas que não fazem trabalhos – se vocês, que são designers de moda não fizerem roupas verdes, como o campo de futebol, com motivos futebolísticos, esportivos – vão perder capacidade de financiamento. Isso pode significar um gargalo enorme na sociedade brasileira, como os muitos colegas nossos, ingleses, estão apontando.

É um risco de a sociedade brasileira transformar a cultura em uma forma de publicidade assessória do esporte e perdermos. As pessoas não querem isso; as pessoas vêm aqui para consumir o que elas querem de sério. Se ficarmos com um souvenir e brinde, vamos ter um país que passou a Copa, não fez a sua lição de casa, perdeu as suas melhores oportunidades e vai, ainda, pagar uma conta muito caro, por anos, por ter convertido suas plataformas de desenvolvimento numa plataforma do evento sazonal. Esse é um desafio. Acho que o Rio de Janeiro é a liderança desse processo. Acho que o setor de moda é a liderança desse processo e estamos aqui juntos para construir a agenda com vocês, para que esse momento seja um momento positivo do país e da Cidade do Rio de Janeiro e do Estado do Rio de Janeiro.



(PALMAS)



Queria só avisar que as inscrições ao Seminário Nacional Setorial de Moda e Cultura foram estendidas por mais dias, para garantir, pois houve vários pedidos, até o dia 7 de setembro, feriado. Prorrogamos também por mais 10 dias. O seminário deve ser no dia 26, de 26 a 28 de setembro, para garantir o máximo de participação, tem mais de mil pessoas, mas agora alguns setores acordaram, não tinham conseguido e pediram. Tivemos que fazer esse adiamento também para garantir as melhores condições. Esses 10 dias vão ser produtivos para organizar os documentos que saem daqui, os outros processos que estão “pipocando” agora no país. Então, já tem a notícia em primeira mão desse adiamento.



(PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Prezado Afonso, primeiro gostaria de pedir um favor: que você envie o meu grande abraço ao Ministro Juca Ferreira, meu co-partidário, a quem tive o prazer e a honra de dar o título de cidadão carioca, em evento, Solenidade, aqui na própria Câmara.

Quero, antes de passar a palavra ao próximo orador, que não precisa nem dar o exemplo de São Paulo, quanto ao motivo, esporte e financiamento. O dirigismo cultural aconteceu aqui no Rio de Janeiro, no ano, por exemplo, do centenário da vinda da Família Real, no então Governo Cesar Maia, 2008. Todos os financiamentos de cultura da cidade só saíam se o projeto tivesse o tema da vinda da Família Real para o Rio de Janeiro. Isso é absolutamente inaceitável! Dirigismo cultural. Cultura é manifestação que parte do indivíduo, que parte da sociedade. O poder público tem que vir – e aí nos colocamos do mesmo lado – o poder público tem que vir como facilitador fomentador disso e não haver dirigismo de forma nenhuma. Isso posta, digo-lhe o seguinte: em nome da Comissão de Educação e Cultura, nós três somos representantes, somos do Legislativo Carioca, pessoas que falam sobre cultura e educação na Cidade do Rio de Janeiro, Capital Cultural do Brasil.

Coloco à disposição 100% do Ministério da Cultura e começamos a discutir políticas públicas para a efetivação das coisas que estão sendo propostas aqui, colo selo de qualidade, fundo nacional e formações. Coloco o Rio de Janeiro à sua disposição, o Ministério da Cultura, para, se for o caso, fazer um piloto desses projetos na nossa cidade. Aí, o Legislativo vai fazer de tudo para que possamos efetivar esses projetos-piloto aqui para serem exemplos e se expandirem por todo o país. Agora, já fica o oferecimento.



(PALMAS)



Passo a palavra, agora, ao nobre Vereador Reimont, colega na Comissão de Educação e Cultura.



O SR. VEREADOR REIMONT – Muito boa tarde a todos! Quero cumprimentar a Mesa na pessoa do Vereador Paulo Messina, que preside este Fórum tão importante, que cumprimentar toda a Mesa, mas não voi identificar pessoas. Vou lembrar as instituições: Instituto Zuzu Angel, Griffe Daspu, Universidade Veiga de Almeida, Companhia de Atos e Atores e também as Artesãs da Maré e tantas outras instituições presentes. Por que cito as instituições e não as pessoas?

No entendimento de que esse tema que está sendo tratado aqui hoje, pensado pela Comissão de Educação e Cultura, mas muito mais do que pensado pela Comissão de Educação e Cultura, fomentado pelas bases sociais do Rio de Janeiro que não querem ficar a reboque desse dirigismo de que o Messina acabou de falar, não querem ficar tapando buracos e não querem ser convidadas a ser aquele que faz um apêndice numa atividade da sociedade.

Eu queria lembrar – e acho que isso é lembrança de muita justiça – que quando o ex-Ministro Gilberto Gil falava do Do-In social, que a sociedade tinha que ser massageada e que a cultura tinha que penetrar todos os vieses da sociedade, tinha que estar no sangue do povo, tinha que estar, não; tinham que reconhecer que está no sangue do povo! Portanto, a cultura tinha que privilegiar todas as classes sociais. O orçamento da cultura, o financiamento para a cultura, o pensar cultura, a partir do Governo Federal, tinha que estar falando para todas as camadas da sociedade. Eu estava tentando me lembrar e, é claro, é fácil lembrar de outros ministros da cultura, inclusive tantos outros que passaram pelo Ministério. Mas temos que admitir que o Ministro Juca Ferreira e o Ministro Gilberto Gil fizeram e fazem história no comprometimento do governo com a cultura no Brasil. Então, esse é um reconhecimento de justiça que não podemos deixar de fazer.

Foi muito boa a sua colocação, Afonso! Muito boa, muito profunda, porque temos que pensar o país não como apenas a soma individual das partes. Temos que pensar o país, na verdade, como o encontro de todas as partes. O todo não é simplesmente a soma de pedaços. O todo é o encontro de partes que se complementam que se ajuda que interagem que fazem. Isso é o que chamamos de transversalidade. A cultura não está somente no show. A cultura não está somente na moda, tema deste nosso fórum. A cultura está na vida do povo. E o que estamos discutindo hoje em relação à moda, poderia ser discutido em relação a tantas outras coisas! Poderíamos discutir diversidade, sustentabilidade – e estamos discutindo nas falas que me antecederam – poderíamos discutir e estamos discutindo transversalidade, podemos e devemos discutir empregabilidade, como é o reconhecimento dos trabalhadores, daqueles que estão nos porões da produção da moda. Veremos, mesmo sem termos um olhar muito acurado e uma lente muito aguçada, que há que se fazer também aí uma grande revolução, porque é possível que encontremos uma coisa meio parecida em alguns espaços com trabalho escravo, que todos condenamos e devemos, a todo momento, levantar bandeiras.

Na verdade, quando rabiscava alguma coisa para falar, o Afonso me tirou a fala no sentido de que não podemos pensar a política, qualquer que seja ela, apenas como algo que resolve questões pontuais. Temos que pensar a política – e esse Parlamento, a Comissão de Educação e Cultura – mas o Parlamento Municipal daqui do Rio de Janeiro e de qualquer cidade do Brasil, se quiser ser fiel àquilo a que se propõe, àquilo para o qual existe, tem que pensar a política não como questões pontuais, ou em questões pontuais, mas como processo e ferramenta para transformar a sociedade e fazer a sociedade avançar.

Estive, essa semana, fazendo uma palestra na PUC para os estudantes e, na conversa com os estudantes no Centro Acadêmico, disse a eles: eu não gostaria, como político que sou, que vocês viessem com demandas para mim, como por exemplo, defenda o passe livre. Isso é consequência da discussão da política que eu quero que vocês me empurrem, me levem e me forcem a fazer. A política tem que existir para pensar um novo modelo de sociedade, para instituir uma nova agenda. Se pensamos na cultura – e aqui, na verdade, aumentando o foco não exclusivamente na moda, onde cabe muito bem, mas ampliando o foco – nós vemos no Rio de Janeiro há muitíssimo pouco tempo, e ainda acontece dessa forma.

E o Governo Federal com os processos do Ministro Juca Ferreira, homem que não há quem não o aplauda pelo sucesso de seu trabalho, também o Ministro Gilberto Gil que o antecedeu, como conseguiu, na verdade, detonar esse processo em que numa cidade como o Rio de Janeiro, os únicos espaços onde a cultura é privilegiada é o Centro e o Sul. O Subúrbio, o Norte e o Oeste ficam relegados ao último plano. A cultura tem que ser pensada para a sociedade no todo e para todas as regiões da cidade.

Aí, disse que iria fazer só uma saudação para não tomar muito tempo também, mas para dar uma pequena contribuição. Queria falar da importância das conferências que este país tem vivido nesses últimos anos. Já tivemos conferência de educação, conferência de segurança, conferência de saúde, conferência de cultural. E na conferência de cultura a moda não foi um apêndice. A moda esteve presente, com delegação. Pautou a agenda da conferência. Tivemos a conferência de direitos humanos e tantas outras conferências, como que querendo entender isso que você acabava de falar: ou nós convocamos a sociedade e estabelecer um novo direcionamento para a política que deve ser feita, ou vamos ficar apagando incêndios. Ou então, vamos ficar dando remédio para curar gripe. Ou vamos ficar arrumando um punhado de terra para tapar buraco. O que queremos – e, portanto, as conferências têm esse papel, não são conferências feitas a partir da prancheta do ministro e de seus técnicos, por mais qualificados que sejam – são conferências como essas que tiveram fóruns livres, fóruns locais, municipais, conferências municipais, conferências estaduais, delegados em esfera estadual, até chegar às conferências nacionais, que trouxeram tanta contribuição para a sociedade brasileira, e contribuições essas que ainda haverão de redundar em benefício da política brasileira.

Então, minha fala aqui era só para fazer uma saudação a vocês e tentar contribuir pegando uma carona, embora eu tivesse pensado até porque na minha conversa com os jovens anteontem na PUC o tema era esse: que política a sociedade espera dos políticos? Uma política que dê um encaminhamento para que a sociedade seja transformada.

Então, esse primeiro Fórum que trabalha e que discute a moda, chamada pela Conferência de Educação e Cultura da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, tem esse valor, tem essa importância, tem esse vigor de dizer “nós precisamos, queremos e podemos contribuir com a agenda que quer construir uma nova sociedade para o Rio de Janeiro, em vista o que está por vir, mas para o Brasil como um todo”. Obrigado.



(PALMAS)



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Quero registrar a presença da Sra. Didi Rezende, Consultora de Cultura do Setor de Moda da Secretaria de Políticas Culturais.



(PALMAS)



Convido o Sr. Luiz Fortunato, representante dos Delegados Setoriais de Moda da Segunda Conferência Nacional de Cultura a ocupar a tribuna para seu pronunciamento.



O SR. LUIZ FORTUNATO – Boa tarde a todas e a todos.



(LENDO)



A moda faz parte de minha vida desde quando eu nasci. Mãe costureira e pai sapateiro, nesse berço de moda aos 14 anos de idade deram o primeiro salto, copiei um vestido de noiva no papel manteiga que a minha mãe estava fazendo. Contra a vontade dela segui esta profissão, pois ela não queria esta profissão para mim.

Em 1976 consegui meu primeiro emprego de carteira assinada, na profissão de cortador, mais tarde modelista na confecção Semirami Ltda.

Com o passar do tempo minha mãe viu que não tinha jeito acabou me incentivando à estudar, fiz diversos cursos de moda e modelagem, inclusive foi ela quem me ensinou a 1ª modelagem, e passei e me capacitei no ramo.

Participando da Feira Fenit em São Paulo no Rio Hotel Intercontinental, Hotel Nacional e Moda Rio.

Em 1980 participei pela loja Farrusca Modas em Cabo Frio, ganhei o concurso de vitrinista com uma viagem para Exterior pela revista Cláudia Modas.

Passei a trabalhar na Rua Santa Clara, 33 na época esta rua era famosa pois suas lojas eram ostentosas e voltada para a moda.

Trabalhando como estilista de modas em Zita Gomes e Jaquek Moda.

Tempos após passei a trabalhar para moda Mode Blul, na Rua Visconde Pirajá, meus modelos passaram a sair no catálogo da revista Figurino Moderno e revista Foto Gente. Sendo reconhecido pelo Lions Clube como Estilista de Modas na participação da Feira de Remo da Lagoa.

Passando a ser reconhecido no mundo da moda com o nome Luyfon, nesta época com a participação de desfiles nos clubes Olímpico em Copacabana, Club de Regatas Botafogo, Montanha Club, Tijuca Tênis Club.

Em 1994 lancei a grife Maison Fortunato no Hotel Hilton realizado pela Directa Eventos e Produções.

Trabalhei em diversas escolas de samba, atuando como carnavalesco e aderecista. Escola de Samba Recordação do Passado – Cabo Frio, Bloco União do Jacaré – Cabo Frio, Escola de Samba Mirim Herdeiro da Vila, Escola de Samba Unidos do Cabuçu, atuando hoje no Bloco Paraíso do Engenho Novo.

Venho hoje militando dentro do mundo em diversas comunidades formando costureiras e dando apoio aos projetos sócios culturais.

Ação Social Sal da Terra, Associação Imagem Armazem Comunitária (Aiacom), Centro Comunitário Raiz e Vida, atuando hoje no Projeto Moda Borel na Associação Projeto Roda Viva.

Agradeço a Deus por esse momento e a Madame Marta M. Fortunato, que encontra-se presente, e a todos que se empenharam para realização deste evento. Assim como a cultura esta na moda, chegou a hora da moda ser entendida como arte e cultura, o setor da moda representa um dos maiores PIB do país.

Neste sentido queremos ampliar a compreensão geral de que a moda, envolvendo o setor têxtil, e pequenas e grandes confecções, estilistas, industrias, costureiras e muitos outros trabalhadores, que estão ligados e presentes em todos os outros setores culturais através das intenções de seus criadores com a cultura popular a música, a arte visual e digital, arquitetura e etc e por isso mesmo é atualmente líder em geração de emprego.



(PALMAS)



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Convido a Sra. Makota Kizandembu, representante dos Delegados Setoriais de Moda da Segunda Conferência Nacional de Cultura para ocupar a tribuna e fazer seu pronunciamento.

A SRA. MAKOTA KIZANDEMBU – Boa tarde a todos. Fico muito feliz que a maioria das falas da Mesa focaram a questão da moda e da cultura popular. Então, vou dar novamente boa tarde a todos vocês e vou saudar o ancestral dessa terra, Opadô. Durante a nossa Segunda Conferência Municipal de Cultura eu fiquei sabendo que o Ministério iria abrir algumas pré-setoriais.

Fiquei muito feliz e a partir daí fui acompanhando quando ia abrir, esperando. E passei pela Conferência Municipal, passei pela Estadual e saí Delegada do Estado para a Conferência Nacional. E eu era uma das poucas Delegadas na Setorial de Moda que tinham acompanhado a Conferência de Cultura no Estado. Quando eu peguei o edital e vi que tinha vários pré-setoriais, eu ficava assim: “Ah, vou me candidatar nessa, ah, eu vou nessa, ah, eu vou nessa”.

Quando vi escrito Moda, eu dei um pulo. O Ministério da Cultura acordou! Aí, meu filho: “De que você está falando?”, e eu falei: “Olha aqui, tem Moda na pré-Setorial de Cultura”. Aí, meu filho falou: “Você não estava esperando tanto por isso, você não vive há muitos anos dizendo que temos que discutir a moda, a cultura, moda na cultura e cultura na moda? Então, você vai se candidatar nessa aí”. Aí, eu me inscrevi.

Quando contei para algumas pessoas que eu tinha me inscrito, as pessoas disseram: “Não há lugar melhor para você, pelo que vem sempre fazendo”. Então, comecei a produzir moda, fazendo figurinha para teatro em 1987. A partir daí fui descobrindo que quase tudo que eu vestia e produzia, principalmente para mim, tinha a ver com a cultura de matriz africana.

Então, passei a pesquisar, fui pesquisar. Eu já produzi artesanato nessa época. Mas aí eu fiz design de moda, modelagem, costura – tudo que pudesse estar ligado à moda – pintura. Tudo eu fui fazendo para que eu pudesse, cada vez mais, me tornar uma pessoa mais completa. Ou mesmo que eu não fosse criar, quando eu imaginasse, eu conseguisse passar para a pessoa, para que ela pudesse compreender aquilo que eu estive criando. Aí, eu fui estudando. O que foi colocado aqui também é a importância da pesquisa, do estudo, da capacitação dos nossos profissionais, na área que for, desde a costureira, a bordadeira. Porque muita gente, por exemplo, sabe fazer crochê e não sabe modelar o crochê para vestir. Então, isso é muito importante. Temos que mostrar a importância da capacitação dos nossos profissionais na cultura popular. Porque, por exemplo, hoje, no Brasil, eu sou mestre em indumentária africana. Quando se fala em indumentária africana, se existe um grupo de teatro, de dança, qualquer coisa, geralmente eu sou chamada porque eu fiz pesquisa da influência da indumentária africana dentro da cultura popular no Brasil. Eu sei porque o saiote do congadeiro de Moçambique é assim, o do Congo é assado, e não é só porque um é mais comprido, outro é curto, porque um usa atravessado, o outro não. Não é só modismo. Isso também tem um significado e uma importância. A Celina colocou a importância da diferença do vestido e estar vestido. Costumo dizer que a consciência de estar vestido costuma provocar na gente um prazer tão grande que às vezes nem o sexo é capaz de provocar. Principalmente nós, mulheres.



(PALMAS)



Então, acho muito importante o que foi colocado pelo Vereador ali, sobre a questão das conferências. E tivemos uma fase muito bonita, em que o Presidente disse, que o mestre lá do Pará disse que conferência era para conferir se tudo estava nos conformes e se o Ministério ia atender nossas reivindicações. Tivemos lá vários problemas, mas também tivemos muitos avanços, pois estamos construindo um Seminário Nacional de Moda. Isso é muito importante, gente. Nós estamos na Câmara Municipal para falar de moda.

Quando saímos da Conferência, nos juntamos eu, a Fátima, o Luiz, a Clarice, para fazer uma proposta de um projeto que a gente pudesse construir em encontros, em fóruns, mas para a Região Sudeste. Mesmo que o fórum acontecesse em São Paulo, no Rio, em Minas, no Espírito Santo, onde fosse na Região Sudeste, nós estaríamos ligados, todos interligados para constituirmos propostas também para a Região Sudeste. Então, fiquei muito feliz com as colocações aqui, no sentido de que Minas Gerais foi lembrado por diversas vezes. A senhora da Daspu colocou a importância dos estilistas de Minas na confecção, na etiqueta deles, na grife deles. Uma outra pessoa aqui colocou essa importância, essa ligação. Fico feliz com isso, pois estamos falando de transversalidade e diversidade da moda. Então, temos que conseguir se compreender, interagir, nos ligar. Lá, no Pará, está assim, no Rio Grande do Sul está assado. Toda essa influência que é moda no Brasil. E precisamos, sim, gente, compreender essa moda popular porque tenho certeza de que a moda que está movimentando essa quantidade enorme de dinheiro não é a moda glamour. Provavelmente, é a moda popular.



(PALMAS)



E esse dinheiro não está passando na mão de nós, os artesões, as costureiras. Não está, não. Então, precisamos qualificar nosso povo, fazer com que eles pesquisem, que eles estudem, que eles se capacitem para fazer projetos, que eles se capacitem para acompanhar o que foi discutido e tirado das conferências. Hoje, aqui, eu anotei que saíram muitas propostas das falas. Vamos acompanhar, vamos cobrar do Ministério, cobrar desta Casa. Que a gente, sim, faça acontecer. Não podemos deixar passar esse momento, essa porta que o Ministério da Cultura abriu. Ela é muito importante. Eu coloquei lá, durante a Pré-Setorial, que seria difícil para nós interagir com o resto do Brasil na Conferência Nacional e passar nossa proposta. Foi difícil, mas passamos. Nós passamos Moções, aprovamos propostas, nós interagimos com os Delegados de todos os setores: cultura popular, cultura indígena, cultura afro-brasileira, tradicionais de terreiro, quilombolas. Com todos os setores que estavam lá, nós conseguimos interagir. Então, eu coloco aqui, de novo: vamos, sim, vamos fazer parcerias! Vamos cobrar desta Casa que se colocou aberta a fazer uma parceria com o Ministério e vamos cobrar do Ministério! Vamos construir as políticas públicas, sim, e vamos vigiar sua implementação! E não vamos esquecer aquilo que foi falado, ou seja, que é necessário fazer projetos e financiamentos para incentivar, patrocinar a moda que está acontecendo lá nos cafundós do Judas, na comunidade não sei das quantas. É de uma grande importância, sim! Falo que os jovens mostraram muito isso. A moda hip hop se alastrou neste País de uma forma que nunca vi! Uma geração tão jovem conseguir em tempo tão the flash, vamos dizer assim, implementar uma moda como fizeram no Movimento Hip Hop neste País!

Acho que minha geração, na juventude, não conseguiu essa rapidez e talvez nem o Movimento hippie tenha conseguido com essa rapidez que o povo hip hop fez! Então, vamos aproveitar esse gancho! Vamos usar a experiência do povo jovem e também vamos usar nossa experiência, nosso saber e vamos lá, vamos seguir em frente porque pelado ninguém anda!



(PALMAS)



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Tenho a honra de registrar a presença do Sr. Luis Fernando Guida, Vice-Presidente Estadual do Partido Verde.



(PALMAS)



Antes de passar a palavra ao último orador inscrito, da Tribuna, quero dizer que nesta parada para o coffe-break, a gente vai abrir para a inscrição de perguntas aos painelistas da Mesa. Alguém da galeria vai querer fazer alguma pergunta? Porque peço ao Cerimonial para ir aí buscá-los para trazer à Tribuna. E aqui do Plenário se alguém quiser fazer alguma pergunta, avise ao pessoal do Cerimonial porque a gente vai fazer a abertura da Tribuna, após o último inscrito, para que vocês façam essa interação com os painelistas. Peço atenção ao Cerimonial tanto para a galeria quanto para o Plenário.

O último orador inscrito, a convite, é a Sra. Marta Teresa Leal da Coopa Roca Rocinha. O Cerimonial está me dizendo que houve um problema e que ela teve que se ausentar do Plenário e que teve que se ausentar do Plenário e que talvez no próximo painel ela fale.

A palavra, então, fica franqueada para as perguntas. A primeira inscrita pode fazer uso da Tribuna, por favor. Diga o seu nome, a instituição e para quem é a pergunta.



A SRA. IARA OLIVEIRA – Meu nome é Iara Oliveira e sou do Grupo Alfazendo, da Cidade de Deus. Coordeno um projeto de educação do desenvolvimento local, na Cidade de Deus, há 15 anos. A pergunta é: Quando é que vai vir, de fato, a valorização do movimento das comunidades que trabalham com o reaproveitamento de materiais? A gente sabe que muito se discute a questão do meio ambiente, mas pouco se valoriza o trabalho com materiais reaproveitáveis. A gente consegue, fazer uma moda sustentável, barata e que dá trabalho, emprego e renda a mulheres de todas as comunidades do Rio de Janeiro. Como a gente quase não tem essa valorização, a gente quase não está num lugar como esse para discutir as prioridades dos grupos produtivos.

Sou consultora de vários grupos produtivos, no Rio de Janeiro, e percebo que as pessoas têm força para fazerem uma moda sustentável, porém são pouco valorizados. Não há lugar para expor, são poucos lugares como este que nos convidam a participar. Quero agradecer a Fátima pelo convite. A gente fica muito orgulhosa de estar num lugar como esse, mas ao mesmo tempo a gente continua percebendo que nos fóruns de moda não se discute sustentabilidade, não se discute que são as costureiras que estão dentro das comunidades que fazem as modas! A gente percebe que quando alguém vai lá e pega uma bolsa nossa e vende para as lojas, vende muito mais caro do que a gente faz, do que a gente produz! Mas, onde está a valorização da moda quando se faz um desfile? Será que as pessoas não pensam que nas comunidades há grupos produtivos que precisam ser vistos e valorizados? Se discute muito a questão da moda nos shoppings, nas grandes lojas. Mas quando é que, de fato, a gente vai pensar em sustentabilidade? Quando é que se vai pensar que o lixo que se está jogando fora e que está poluindo todo o meio ambiente pode se tornar material de uso da moda e você ter prazer em usar?! Não só porque está na moda e dizer que foi uma mulher lá da Cidade de Deus que fez, mas em acreditar numa mudança de cultura! Acreditar que pode, sim, ser feito um produto com um material sustentável e você se orgulhar por estar usando, não porque é lá das mulheres da Cidade de Deus, mas porque você está contribuindo para que esta Cidade e este País sejam melhores.



(PALMAS)



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Vamos fazer duas perguntas para ficar o ping-pong direto.



O SR. RAFAEL CURY – Boa tarde. Eu estou muito emocionado de estar aqui hoje. Meu nome é Rafael Cury e estou representando uma entidade nova que foi criada, uma entidade sindical muito importante para todos esses artesãos, para todos os músicos, para todos os autores, para todos os modelos, para todos os figurantes que participam dessa teia. Eu represento o Sindicato dos Agentes desse inúmero aglomerado de grãos que formam essa grande massa que está sendo representada por empresas.

No final do ano passado foi concedido pelo Ministério do Trabalho e da Cultura a concessão do Sindicato dos Agentes. Então, é um sindicato novo que de alguma forma faz a interface desse setor todo. Eu gostaria de deixar aberto e marcar nesse fórum que o que for necessário para a identificação dos agentes dessa cultura, de todo esse grupo de empresas e de pessoas envolvidas, nós tornaremos, pelo sindicato, um viés para valorização desse patrimônio cultural que precisa ser catalogado, identificado, que precisa ter uma origem.

Fiquei emocionado com o depoimento de Minas, com o depoimento do representante do Ministério da Cultura, com o depoimento dos integrantes do Zuzu Angel, dos parlamentares desta Casa. É um esforço sobrenatural de todas as pessoas aqui envolvidas. O que significa o patrimônio cultural brasileiro? Estamos nesse processo de identificação, se existe alguma oportunidade nesse momento de falar, é acreditar que existe a inovação e que a gente possa criar uma teia para valorizar o pequeno, o médio e o grande.

Eu deixo esse viés aberto e o que puder contribuir, através dos agentes, nesse processo, não só no Estado do Rio de Janeiro, mas também no Estado de São Paulo e nacionalmente, a gente vai ficar nesse esforço. São essas as palavras que eu tenho para deixar à Casa, pela instituição a qual represento.

Obrigado e sucesso!



(PALMAS)



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Como as falas não foram direcionadas especificamente para alguém da Mesa, alguém quer comentar o que foi dito?



A SRA. CELINA FARIAS – Aquela primeira moça que falou, da Cidade de Deus, achei muito interessante, bárbaro, o que você falou, mas a gente nessa área acadêmica, a gente já se preocupa. Temos em nossa faculdade uma cadeira sobre sustentabilidade. Isso já é um passo, vamos dizer, acadêmico para conscientizar o futuro profissional de moda da necessidade da sustentabilidade. Endosso nossa mineira, ali, que falou sobre a área em que ela é mestra, a área de indumentária. Então, não é só o fazer. Temos o fazer e a parte teórica também para que o povo brasileiro, os criadores se conscientizem dessa área de sustentabilidade.

Então, a gente vem ao encontro exatamente, no fundo, da mesma proposta.



A SRA. LUCIA REBELLO – Essa questão da sustentabilidade, dentro do processo da cultura, entra da mesma forma que os outros elementos, é um processo! Temos uma história de mão-de-obra desvalorizada, mão-de-obra como algo menor que vem desde a colonização. Não é uma questão que surge agora! Se a gente pensar bem, apesar da gente hoje ter em nosso discurso a palavra sustentabilidade, acredito, sinceramente, que grande parte da sociedade nem sabe o que é sustentabilidade. A gente fica restrita a fazer reciclagem e esquece que é um todo muito maior, como foi muito bem colocada a questão do trabalho escravo que não aparece porque não tem esse nome dentro das empresas. A questão das indústrias não cuidarem das tecnologias e poluírem. Então, existe toda uma coisa muito mais ampla, mas o foco principal eu acho que está nessa questão histórica que só vai mudar quando realmente a gente começar a legitimar a cultura e a área das humanas dentro do espaço de políticas públicas. Hoje, nós trabalhamos muito com o tecnológico e trabalhamos pouco com essa questão do humano, até para que haja uma compreensão melhor dessa nossa sociedade e dos conceitos que nós usamos para falar mas não sabemos nem direito o que estamos falando.



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – A próxima inscrita para comentários e perguntas é Mariana Negreiros, aluna da Universidade Estácio de Sá.



A SRA. MARIANA NEGREIROS – Primeiramente, boa tarde para todos. Apenas pegando o gancho da discussão que houve agora sobre sustentabilidade. Sim, a gente tem essa matéria, eu estou cursando essa matéria. Quero dizer que, pelo menos para mim, é uma preocupação muito grande a respeito do que estamos fazendo com nossos materiais, enfim, com a água que a gente gasta e aquilo que a gente joga fora, aquilo que a gente deixa de reciclar. Acredito que um dos caminhos é a gente dar uma vida maior às roupas que a gente usa, àquilo que a gente usa e tornar as coisas menos descartáveis.

A pergunta que eu gostaria de fazer é para Gabriela, da Daspu, porque eu acho que não entendi muito bem como é a relação das prostitutas dentro da Daspu. Entendi que você falou sobre as estilistas, mas o que, efetivamente, elas fazem dentro da empresa?



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Obrigado, Mariana. Quero avisar para os outros alunos da Estácio que mandaram a declaração de hora, que eu só vou assinar a de quem for para a Tribuna falar... É brincadeira!



A SRA. GABRIELA LEITE – Vou começar a responder com uma história bem legal. As minhas colegas prostitutas da Tailândia fizeram um painel, porque todo mundo sempre quer dar uma nova profissão para prostituta e esquece que elas já têm uma profissão... Então, as minhas colegas da Tailândia fizeram um grande painel que tem uma máquina de costura e sob ela está escrito: “Nós não queremos máquinas de costura, queremos melhores condições para exercer a nossa profissão.” É interessante que foi uma máquina de costura que elas botaram, porque toda vez que alguém quer nos dar uma outra profissão, porque acham que a gente não tem profissão, quer que a gente seja costureira, cabeleireira, sem nunca perguntar para a prostituta o que realmente ela quer.

Nós, prostitutas, não estamos trabalhando para ter um outro tipo de trabalho, não. Quando a gente recebe algum grupo de estilista, nós damos as nossas idéias e o nosso olhar cultural para que os profissionais façam os modelos; depois, eles trazem de volta e nós fazemos os nossos comentários, aceitamos, ou não aceitamos, mas é o nosso olhar, porque na verdade o empreendimento é nosso e nós é que damos a visão daquilo que queremos. Depois, a gente promove todo o resto, a gente terceiriza as nossas coisas, hoje, porque não temos dinheiro para ter uma baita confecção, e se um dia a gente vier a ter, se o nosso planejamento estratégico disser isso e viermos a ter uma confecção, seguramente não vai ter um monte de prostitutas costurando, porque as prostitutas já têm a sua profissão.

Então, outras pessoas, outras mulheres que estudaram costura, que deram cursos, virão trabalhar na nossa confecção, porque senão muita gente fica pensando que é um projeto assistencial para tirar as pobres coitadinhas das prostitutas daquele mundo horroroso em que elas vivem e não é nada disso. Nós somos batalhadoras dos direitos sexuais e acreditamos que a prostituição é uma profissão. Nós queremos, como dizem minhas amigas da Tailândia, melhores condições de trabalho para exercer a nossa profissão. De resto, a Daspu, além de ser um grande plano de sustentabilidade para os nossos projetos, é também a visibilidade, é principalmente a visibilidade de todas essas mulheres que sempre estiveram por baixo do tapete e no escuro da vida, porque prostituta para as pessoas é nada, não chega nem a ser mulher. Eu gosto muito da palavra puta e quero que um dia essa palavra se torne uma palavra bonita, porque você não faz movimento nenhum se escondendo debaixo da mesa.

Não sei se eu te respondi.



(PALMAS)



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Mais alguém inscrito para as considerações finais, antes de chamarmos o intervalo?

Eu queria me dirigir novamente ao Sr. Afonso, representante do Ministério da Cultura. Quero insistir que o senhor, além de levar o meu abraço, leve também a mensagem ao Ministro Juca, que a Cidade do Rio de Janeiro está hoje junto com a sociedade que nós vimos aqui, para que a gente implemente um piloto aqui dessas coisas que estão sendo propostas. Nós temos uma chance importante! Lógico que a gente espera que a maior parte das verbas venham do Ministério da Cultura, mas eu lhe digo que no projeto da Zona Portuária existe uma emenda que separa 3% do valor das Cepac’s, que são os títulos imobiliários daquela região, para a cultura, ou seja 3% do valor dos títulos Cepac que seriam comercializados em bolsas de valores serão revertidos para a Cidade do Rio de Janeiro, carimbados para a Secretaria de Cultura. Então, aí existe um mecanismo que talvez permita que a gente instale alguns desses pilotos na área portuária, que já a partir do ano que vem, vai sofrer mudanças radicais.

Nós temos um importante momento, mas é um momento delicado, porque se a gente não o aproveitar agora e no início do ano que vem, vamos perder essa chance. Temos a vontade política da cidade de que façamos esses pilotos e essas coisas que foram apresentadas aqui, e temos como contribuir, até como receita. Temos que trabalhar essa parte junto com o Executivo, mas de antemão lhe digo que existe uma verba carimbada de 3% das Cepac’s para investimento exclusivamente de cultura na área portuária. Como não há projeto além da criação do Museu a Céu Aberto, que não vai consumir uma parte relevante desses 3% e para o resto não tem projeto, podemos tentar trabalhar essas coisas por lá. O importante é a cidade, que hoje se coloca à disposição de ser piloto desses projetos.

Quanto à formação, é importante saber que nenhuma universidade vai propor cursos... Hoje, você com salário, faltam médicos porque falta mercado, a gente não cria. As universidades não criam as ofertas quando não há demanda suficiente para absorvê-las. Então, é nossa responsabilidade como gestores de políticas públicas fomentar esse mercado. A partir do momento que fomentarmos esse mercado, tudo virá em decorrência disso: a formação, o interesse das universidades de colocar a mão-de-obra qualificada e por aí vai.

Por último, sobre o que a moça falou de material reutilizado, eu lhe digo que confio plenamente nesses pilotos que vamos estudar, mas se há uma forma de fazer será através do Ministério da Cultura, porque o Ministro da Cultura, além de ser muito competente, é de um partido que tem sustentabilidade, que é a palavra do momento, da era, do século. Então, estamos falando a mesma língua.

No mais, algum orador da Mesa que fazer alguma consideração antes de fazermos a pausa?

Então, eu vou pedir a pausa para o café, que será no 2º andar. Quem estiver na galeria fique no andar que está e nós vamos subir para ver a exposição no Salão.

O Cerimonial vai encaminhar vocês.

O 2º painel será às 16h15.

A primeira parte do Debate está encerrada.

Declaro suspensos os trabalhos do Fórum.



(Suspende-se o Fórum às 15h40 e reabre-se às 16h50)



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Boa tarde a todos! Iniciamos a 2ª parte do 1º Fórum de Cultura. Levo ao conhecimento dos senhores a nova constituição da Mesa.

A Mesa está assim constituída: Sr. Robert Guimarães, Coordenador Geral da Inbracultmode, Instituto Brasileiro de Cultura, Moda e Design, Produtor e Consultor de Moda; Sra. Professora Marta Feghali, Coordenadora de Design da Universidade Veiga de Almeida; Sra. Clarice Cavalcanti, Coordenadora das Artesãs da Maré; Sr. Mauro da Silva Lima, Coordenador da Campanha de Atos e Atores e Produtor Cultural.



(As autoridades são conduzidas à Mesa)



(PALMAS)



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Nesse segundo e último painel, os palestrantes vão falar sobre diversidade cultural e moda, promoção de estudos de mapeamento, fomento e sustentabilidade para o setor de moda, geração de emprego e renda e financiamentos de projetos de geração de emprego e renda para o setor de moda.

Com a palavra, o Sr. Robert Guimarães, Produtor e Consultor de Moda.



O SR. ROBERT GUIMARÃES – Boa tarde a todos!

É um grande prazer estar nesta Casa, que me traz grandes lembranças. Estivemos aqui na ocasião da regulamentação da Babilônia Feira Hype, no ano 2000, e na ocasião tínhamos este Plenário cheio dos expositores reivindicando a regulamentação da Babilônia Feira Hype. E também em outra ocasião, passado aquele momento de regulamentação, alguns anos depois, também estivemos aqui, a convite do Vereador Carlo Caiado, para receber a Medalha Pedro Ernesto – o que muito nos honra – pela realização dos trabalhos, na ocasião, de 12 anos à frente de momentos de Novos Talentos no Rio de Janeiro, na realização da Babilônia Feira Hype, do Prêmio Rio Moda Hype, movimento oficial de Novos Talentos.

Hoje, nós vivemos um momento muito especial para a categoria da moda, porque finalmente conseguimos abrir essa discussão da proximidade e do alinhamento da moda como cultural, a moda como entendimento de cultura, a moda como ferramenta de comunicar cultura.

Nós, do Estado do Rio de Janeiro, devemos ficar muito orgulhosos por sermos os pioneiros nessa demanda junto ao Governo do Estado, hoje. Já é uma realidade esse reconhecimento do setor, através da Secretaria de Cultura do Estado, da Secretária de Cultura, Adriana Rattes, que com grande empenho junto à sua equipe conseguiu implantar o setor na estruturação da Lei do ICMS. Hoje, projetos, a exemplo da Babilônia Feira Hype, podem ser contemplados pela Lei do Incentivo do ICMS.

Então, nós temos essa grande satisfação de ter em nosso Estado esse amadurecimento, esse entendimento da importância do setor da moda como uma ferramenta, como um instrumento fundamental para se entender a cultura de um país, a cultura do comportamento de uma Nação, e efetivamente poder realizar eventos e ações que possam cada vez mais fortalecer este segmento junto ao Poder Público. Estamos a caminho do Ministério da Cultura também na esfera federal para solidificar, consolidar também este segmento. Em breve, estaremos em Salvador discutindo profundamente com gente de todo o país a questão da moda dentro do bojo da reformulação da política cultural do Ministério da Cultura. Então, eu me vejo, hoje, bastante empolgado neste momento político pelo qual estamos passando em nosso país, no que diz respeito ao nosso setor, com este reconhecimento institucional. É fundamental que a gente possa, através desse reconhecimento institucional, montar ações efetivas de fomento ao mercado.

Falo com muita propriedade no que diz respeito ao segmento dos novos talentos, porque desde 1996, eu e meu sócio, Fernando Molinari, demos início a um trabalho da realização da Babilônia Feira Hype, que se desdobrou em outros segmentos dentro do nosso trabalho, a exemplo do Prêmio Rio Moda Hype e também do portal Roda Moda. Nesse período, nesses anos, tivemos a grande satisfação de realizar um evento que foi porta de entrada para novos talentos que hoje estão muito bem estabelecidos como empresários da moda, a exemplo da Farm, da Espaço Fashion, da Foxton, da Constança Basto... Foram mais de 4 mil marcas que ali estiveram, dentro das edições da Babilônia Feira Hype, e dessas 4 mil marcas mais de 100 marcas estão hoje estabelecidas no mercado. Dessas 100, pelo menos 10 têm redes de lojas espalhadas por várias cidades e estados do país.

Naquele momento em que nós criamos a Babilônia Feira Hype, o quadro era bem diferente do quadro de hoje. Era quadro de uma transição política do país e um momento de entendimento do que ainda era muito primário: o entedimento da economia criativa e das iniciativas de fomento ao talento abrindo espaços que pudessem dar dignidade ao setor. Então, antes ao fazer moda havia apenas dois caminhos muito claros, após a formação acadêmica: ou se conseguia um emprego para trabalhar dentro de uma equipe criativa de uma grande marca e, portanto, atrás de um biombo, onde seu nome jamais apareceria, o trabalho autoral jamais teria espaço de comunicação com o mercado; ou você se formava, conseguia uma costureira, montava uma demanda de uma pequena coleção e fazia pequenos bazares nas casas dos amigos. Você era um “sacoleiro” chique... Com o advento da Babilônia Feira Hype, a gente foi muito feliz na criação do projeto, na medida em que conseguimos realizar um projeto de estrutura de sustentabilidade, no qual o tamanho do capital inicial e o tamanho do projeto de cada expositor no seu stand de 2,5 x 2,5 era exatamente o tamanho que aquele pequeno empreendedor, em início, em primeiro suspiro de vida, poderia honrar e viabilizar com aquele pequeno capital inicial.

Então, eu acho que esse é o grande fator que fez com que a Babilônia Feira Hype conseguisse atingir o seu êxito como projeto de inclusão e de oportunidade de novos talentos no mercado. Foram 11 anos realizando a feira... O nosso segmento, que é a cultura, nós, produtores – venho de uma formação de teatro, de cinema, de televisão – todos fazemos parte de um único segmento, que é o segmento daqueles que produzem, daqueles que fazem projetos e que buscam fazer com que esses projetos tenham êxito... No que diz respeito à Babilônia Feira Hype e aos estilistas, vemos uma escala crescente da Babilônia Feira Hype. Houve aquele momento do ineditismo, depois aquele momento do estouro, era o máximo, estava na moda... Depois, teve aquele conflito mais determinante na ocasião da regulamentação, que nos trouxe a esta Casa. Logo depois da regulamentação, começou a ficar muito difícil manter a estrutura inicial. Como se dava a estrutura da Babilônia Feira Hype? Através do pagamento dos estandes, nós, o escritório, a produtora, a Hype Arte e Construções, administrávamos, num formato semelhante ao de um condomínio, os custos do evento, tudo único e exclusivamente dependendo da receita do recolhimento do valor dos estandes e um pequeno valor, simbólico, de bilheteria. Com o decorrer do tempo e o próprio sucesso da Babilônia Feira Hype, o feitiço foi virando contra o feiticeiro, pois à medida que o evento foi ficando muito famoso, os fornecedores, por sua vez, foram ficando muito caros. Para vocês terem uma ideia faz três anos que nós não realizamos mais o evento, porque ele ficou inviável.

Hoje, trago a esta Casa, em primeira mão, a notícia que finalmente conseguimos enquadrar a Babilônia Feira Hype no bojo da Lei de Incentivo de ICMS. Por isso, vai ser viável novamente ter o evento acontecendo dentro da programação da cidade, que reconhece, através de lei municipal realizada nesta Casa, que a Babilônia Feira Hype é de interesse cultural, turístico e social para a Cidade do Rio de Janeiro. Trabalhamos com muito afinco durante os 11 anos em que a feira se realizou e estamos muito entusiasmados nessa retomada da Babilônia Feira Hype, principalmente neste momento em que o setor tem um relacionamento estreito com a produção cultural do Estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Cultura, através das políticas também da Prefeitura, que começa a se alinhar também nessa direção, e também da política federal do Ministério da Cultura, que também alinha nessa direção.

Então, estou sendo muito específico ao falar exclusivamente da Babilônia Feira Hype, porque eu quero trazer essa minha vivência como exemplo. Cada um de nós aqui tem os seus, à frente dos seus negócios, e queria dizer que a Babilônia Feira Hype foi e sempre será uma incubadora de novos talentos. E ela vem agora cumprir a missão de dar continuidade e incubar novos talentos da moda e do design, como também ampliar aos outros segmentos da economia criativa.

Neste momento, quero chamar a atenção de todos nós para este momento, em que é fundamental estarmos atentos as políticas públicas, porque é muito fácil falar mal de políticos e falar mal de política... “Ah, o governo não faz...” Então, eu estou dando aqui dois depoimentos. O depoimento da ausência do governo, de uma ação, de uma parceria com o governo através da iniciativa privada que tem a iniciativa de inventar um projeto... Esse projeto toma vulto e alcança resultados que começam a esbarrar nas missões que teoricamente o governo é que deveria estar realizando. Aí, se dá um momento muito especial... E nessa parada de 3 anos foi muito interessante, de não conseguir manter a estrutura que tinha antes, foi um momento em que entramos num processo de observação, eu e o Fernando Molinari, e através do Rio Moda Hype, que teve a sua continuidade garantida pela participação no Fashion Rio em ação de patrocinadores que realizam e patrocinam o evento, a gente percebeu que o trabalho que realizávamos na Babilônia Feira Hype, que foi o grande ponto de partida, era um trabalho que transcenda as diretrizes de uma produtora. E assim a começamos a entender a importância da criação de uma organização, de uma instituição. Foi quando criamos o Inbracultmode, Instituto Brasileiro de Cultura, Moda e Design, que tem como missão descobrir e difundir novos talentos da economia criativa. E com a vivência do Inbracultmode nessa seara institucional, nessa seara do diálogo com o poder público, do entendimento do que é o poder público, onde e em que demanda o poder público pode participar e dialogando com a iniciativa privada, é que a gente amadureceu muito e conseguiu, talvez, até avançar mais do que se a gente tivesse ficado na depressão, ou empurrando com a barriga aquela estrutura velha que nós usávamos para realizar os nossos eventos. Então, o Inbracultmode é um instituto com sede no Rio de Janeiro, tem missão nacional. Hoje, realizamos o Rio Moda Hype, que tem abrangência nacional, tem a participação de estilistas do Brasil inteiro, mas é com muito orgulho que nós defendemos com unhas e dentes os interessantes do Estado do Rio de Janeiro, porque nós não estamos aqui por acaso.

Eu sou um entusiasta em afirmar e em fazer um coro de que o Rio de Janeiro tem no seu DNA, na sua formação natural, ser a capital da economia criativa deste país. Eu acho que o Brasil é um país onde a economia criativa tem uma grande demanda e que pode mudar muito os números e a realidade do país. Eu sou um brasileiro que acredito que uma vez que nós, o poder privado e o poder público, acordemos definitivamente para o segmento da economia criativa, poderemos avançar – e muito – no que diz respeito à inclusão social, à oportunidade de novas frentes de trabalho, porque o povo brasileiro tem uma coisa que está na sua própria natureza, que é o poder da criatividade. Nós temos um exemplo explícito que acontece todos os anos na nossa frente: a manifestação do Carnaval, onde acontecem verdadeiras óperas à nossa frente na Apoteose, no Rio de Janeiro. E hoje também é uma realidade em São Paulo e em vários estados do país. Mas eu vou me ater ao Rio de Janeiro... E se a gente fizer hoje um levantamento e começar a mensurar esse PIB, o que se movimenta de economia criativa/economia informal no nosso estado, a gente vai ver que esse é um número significativo! E por gerarmos esse número, nós temos que nos fortalecer politicamente para tirar o pires da nossa mão. No lugar do pires, nós termos uma proposta efetiva dos nossos interesses, dos nossos entendimentos, e fazer um casamento efetivo da nossa expertisse com o governo em todas as suas esferas, no governo municipal, estadual e federal.

Então, dando esse exemplo de Carnaval, nós vamos entender que o audiovisual tem a sua grande manifestação no Estado do Rio de Janeiro. Também no segmento das artes plásticas a grande demanda nacional é aqui. O Estado do Rio de Janeiro é que é a grande vitrine. Daqui saem os grandes artistas plásticos que hoje ocupam grandes espaços em exposições nacionais e internacionais. E na música não é diferente... Em todos os segmentos da economia, nós somos fortes. Eu costumo fazer uma piada: precisamos fazer com que o nosso governador, seja ele o Sérgio Cabral ou quem estiver nos governando, entenda que mais vale a gente se mobilizar, organizar o setor da economia criativa do que implantar qualquer fábrica de carro ou montadora aqui, porque a gente vai ter muito mais demanda de profissionais a serem treinados e rapidamente terem a sua inclusão social e estabelecimento da sua capacidade de gerar sustentabilidade para as suas famílias do que qualquer outra demanda de economia.

Então, eu quero encerrar as minhas palavras dizendo que nós não só podemos como devemos fazer com que o Estado do Rio de Janeiro seja um grande exemplo para que todo o Brasil entenda e faça da economia criativa uma grande bandeira econômica e cultural para o País.



(PALMAS)



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Obrigado, Sr. Robert. Com a palavra, agora, a Coordenadora de Desing da Universidade Veiga de Almeida, Professora Marta Feghali.



O SR. ROBERT GUIMARÃES – Eu avisei à organização que eu estou com um compromisso e infelizmente não tive como abrir mão. Honrando a minha versatilidade dentro desse campo da economia criativa, eu também sou cineasta, tive meu filme selecionado para o Festival do Rio. Estou na finalização dele e tenho hoje marcado com os atores a dublagem de algumas cenas. Então, infelizmente, talvez eu não consiga ficar até os apartes finais, mas eu agradeço e convido todos para assistirem “O BOLO”, que é o filme que está na seleção do Festival do Rio.

(PALMAS)



A SRA. MARTA FEGHALI – Parabéns!

Gente, quando eu recebi o convite para vir aqui à Câmara Municipal do Rio de Janeiro para falar para vocês, e, em primeiro lugar, fui selecionada para a primeira mesa. E aí, na primeira mesa, eu ia falar sobre identidade cultural, de moda, cultura, Brasil. Então, comecei a fazer o meu dever de casa, consultar as coisas que tenho, como aluna que sou, pois estou fazendo doutorado agora, e como professora... Realmente comecei a selecionar tudo e fazer um belo dever de casa. Aí, me ligaram urgentemente dizendo: “Professora Marta, já não é mais primeira mesa, é a segunda mesa”. Aí, eu me empolguei! Comecei a trabalhar também sobre a transversalidade, sobre a identidade cultural, sobre a sensibilização, regionalidade, enfim, fiz tão bem, me empolguei tanto que fiz muitos slides.

Vou apresentar para vocês, mas, por favor, se por acaso eu me delongar, for chata, avisem-me! A gente está aqui para dialogar, para falar.

Toda a minha linguagem vem através do desing, que estudei na ESDI. Sou arquiteta, formada pela UFRJ, sou estilista pelo Senai-Cetiqt, trabalho com artesanato, com os talentos do Brasil, e isso me empolgou demais! Vejam só que curiosidade: as quatro áreas, foram as quatro áreas e setores que entraram agora para a Cultura. Eu sempre fiz parte da área de Ciência e Tecnologia. Nós sempre fomos da Ciência e Tecnologia. E agora, de repente, com essa importância das Ciências Humanas e de ver o ser com o trabalho manual, trabalho de fabricação de uma coisa tão importante como a moda, entramos para a Cultura.

Além disso, com esses setores que são tão importantes, fui chamada para ser consultora do Sebrae, da Firjan e de n instituições, e estou também abrindo o meu próprio negócio, que se chama Satisfashion; é a satisfação, acima de tudo, do cliente. Como empresária e professora, eu vejo os dois lados da moeda. Vejo a pessoa que trabalha lá como costureira, alfaiate, cortador, na área de moda, e vejo também o empresário que lida com pagamento, com n problemas fiscais, de saúde também, com os empregados. Ou seja, veio as duas coisas na balança. Como é importante a gente falar sobre essa parte de política industrial de confecção e ter a lei trabalhista para todos aqueles que contribuem na moda, e também para o empresário, porque é ele que dá o emprego, é ele que fomenta o emprego.

Sou da época da Feira de Moda. Nós tínhamos aqui no Rio de Janeiro – não sei se vocês se lembram – no Hotel Nacional, a maior feira de Moda Praia. Gente, aquilo durou 2, 3 edições, e, logo em seguida, São Paulo veio – com todo o respeito pelos paulistas –, vieram de São Paulo, pegaram a nossa maior feira, porque aqui é a identidade de Moda Praia, e levaram lá para São Paulo. Isso, a meu ver, é um absurdo! Qual é a cara do Rio de Janeiro, do nosso Estado? É moda praia! É moda praia que a gente mais exporta.

Então, eu estou aqui para tentar resgatar a importância da moda carioca. É isso que nós vamos ver nos slides.

Marcos, por favor.



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Professora, desculpe interromper, mas se a senhora quiser usar a Tribuna é só seguir por ali.



A SRA. MARTA FEGHALI – Eu acho que o pessoal vai me ajudar. Cada semestre aumenta o meu grau. É tanta leitura, é tanta coisa! O Marcos me disse que vai botar lá em cima também. Vamos. Ver.

Bom, como Coordenadora da UVA, a moda na UVA, o design entra com a forma e nós entramos com o conteúdo. É isso que nós tentamos fazer na grande escola de Desing. Temos Desing de Jóias, Design de Moda, Desing de Animação e Desing de Interiores.

Pode passar, Marcos, por favor.



(A Profª Marta Feghali fala durante a apresentação dos slides)



Então, o meu tema... Primeiramente, Identidade.

Vejam lá, Brasil, escrito, cada letra com um tipo de artesanato em esteira, em pintura, em cerâmica... O que é aquela identidade lá? Será que nós temos realmente identidade no Brasil na área de moda?

Bom, o Brasil espera por você com um sorriso, com braços abertos e muito mais. Essa foi a campanha para levar os empresários a apresentar a moda, as coleções na Rússia, em Moscou. E eles usaram essa campanha. Moda é muito mais.

Pode passar, Marcos.

Então, exuberância de um país onde a simpatia está presente em todos os lugares. Isso é muito curioso! Realmente, as pessoas, os estrangeiros falam do Brasil como uma população alegre. A gente pode estar na pior, na pindaíba, a como a gente diz, mas somos um povo alegre! A gente sempre está sorrindo, e o carioca, principalmente. Pode estar na pior, pode perder, tem favela, mas a gente nunca perde a esperança de melhorar.

A identidade ali é o verde dos trópicos, de uma floresta tropical, o pôr do sol mais bonito, as praias mais formosas e gente bonita, gente jovem, alegre.

Passa, Marcos.

Será que Moda Brasil é isso aí? O que vocês acham? Moda Brasil tem que ser a bandeira? Vocês estão vendo as imagens? Precisa estampar a bandeira do Brasil, fazer vestido da bandeira do Brasil para ser moda brasileira? Eu acho que não.

Passa a outra foto.

Olha aí, a Lady Gaga vestindo a nossa bandeira, porque ela gosta do Brasil. Mas será que isto é moda brasileira? Divulgar a nossa moda é isso? Eu não acho.

Passa de novo, Marcos.

Moda Brasil é isso? É uma fotomontagem, uma roupa estilizada, uma sainha pequenininha, uma mulher saltando, pulando. Era na época da Copa da África, e ela está vestindo um vestidinho todo programado em computador. Isso é moda brasileira?

Moda Brasil é ousadia com mais estilo, expressão com mais inspiração, originalidade com mais cor. Vejam as palavras importantes que estão aí.

Moda Brasil, é, além do mais, o Rio, a Cidade pela qual o mundo identifica o Brasil. Desde os primórdios, o Rio de Janeiro tem essa força de apelar, de chamar, de atrair.

Marcos, outra, pro favor

Ainda hoje a Cidade é considerada como o centro difusor de inovações e de cultura, mesmo depois de ter perdido o posto de capital nacional. O exemplo maior que eu cito são as novelas. Todo mundo quer se vestir como algum personagem da novela. Todo mundo quer ter o mesmo bijou, a mesma roupa, o mesmo jeito. Moda é isso. É um poder. Moda é deter o poder. Você pode divulgar uma moda e, através dessa moda, manipular a mente das pessoas. É um movimento. Movimentos de moda, de estilo são fortíssimos!

Olha a foto da carioca em Copacabana, as saídas de praia, os biquínis. Isso é a moda brasileira, e a moda carioca, a mais conhecida.

Pode passar.

A Moda Brasil é principalmente no que diz respeito ao estilo e à imagem. A moda no Rio de Janeiro é considerada uma espécie de representante da moda nacional no exterior. É um estilo que assume características próprias e que exporta essa marca feita no Brasil para outras localidades.

Olha lá. No Brasil, temos a sensualidade acima de tudo. Então, a gente faz parte do brasileiro, de ser sensual, de emanar sensualidade, e de se vestir com roupas mais leves, com roupas do tipo balneário, da moda praia, roupas bem pequenas, inclusive, curtinhas. É por isso que o brasileiro é conhecido, por ter um charme especial, esbanja charme.

Pode passar.

Olha lá, e a sensualidade não só mora aqui no Rio de Janeiro, como no Brasil todo, como estava falando para vocês, mas também é culturalmente atribuído ao brasileiro. Já dizia Gilberto Freire: “Os ritmos de andar da miscigenada brasileira chegam a ser musicais nas suas dependências de forma ondulante.” É aquele gingado que só a brasileira tem, aquele rebolado, aquele andar, aquele remelexo, aquele molejo da carioca quando vai á praia. Isso me faz lembrar das músicas do Tom Jobim: “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela menina...” É isso, o Brasil é isso!

Pode passar Marcos.

Olha lá, a nossa Garota de Ipanema. Isso quem está apresentando é a Vogue, é a revista que tem mais confirmações de tendências tanto aqui no Brasil como no exterior. Não estou falando de uma revistinha qualquer. É um veículo que difunde a moda e que leva as nossas características para fora do país.

Olha lá. Então, a identidade dessa moda carioca e da moda brasileira está calcada numa moda leve, tecidos e materiais extremamente vaporosos e leves, sensual, despojada e também casual. Pouca roupa, pouco pano. Eu estou falando genericamente, abrangendo a maior parte das pessoas. Isso foi um estudo que minha colega fez, um trabalho de doutorado, de tese. Ela levantou todos dados, e ela me possibilitou, me ofereceu para que eu pudesse apresentar aqui essas imagens. Eu achei um estudo muito sério e muito bem trabalhado, com índices de peso.

Olha lá. Isso é biquíni, é calça, é o quê? É uma roupa completamente inovadora! Isso foi a Yes Brasil que fez na época. Foi um estouro nas passarelas! As cantoras de Nova Iorque só queriam comprar calça... Não vou dizer nome, marcas, mas, enfim, é uma calça que pegava tão bem a modelagem no corpo da mulher brasileira que realçava todas as formas.

Pode passar.

Outras Vogues também fazendo, direito do Rio de Janeiro, vários lançamentos e produções feitos nas nossas praias, até chegar no imaginário do estrangeiro que as mulheres cariocas se vestem também sensualmente para ir para a feita livre. Para você comprar uma banana, um peixe, você vai de shortinho, vai toda aberta. É uma forma de que isso vem através também do carnaval, que o próprio Robert falou aqui com a gente. Então, essa cultura da roupa leve, pequena, curta e sensual é coisa mesmo genuinamente patenteada aqui no Brasil.

Pode passar. Gente, eu posso continuar ou está muito ente-diante?

Olha aí. O Rio é também grife. O Rio, a Cidade do Rio de Janeiro tem esse poder de lançar moda para todos os outros Estados e internacionalmente. Então, o nosso colega, o Carlos Miele, da grife Carlos Miele, da M. Offiver, que faz quase chegando a uma alta costura... Nós não temos alta costura, como se entende em Paris, na chambre cervicali da Houte Couture. É outra coisa.

Pode passar. A Osklen é uma das grifes mais conhecidas e agora está trabalhando para levar pelo menos uma Osklen em cada cidade mais fashion do mundo: Nova Iorque, Tóquio, Paris, Milão, Londres.

Então, olha só. Não é só moda, grife, mas cores vivas. Nós temos cores, nós vivemos com cores. Olha a platéia aqui. Olha quanto colorido. Isso não existe em outros países, essa alegria, essa maneira de se vestir, de propagar colorido. Nos outros países é tudo cinza, cinza e preto. O chique é preto. Imagina, se a gente se vestisse toda de preto?

Olha lá. A cartela de cores. A gente não precisa se inspirar no que vem de fora. Vamos nos inspirar no que a gente tem. A nossas diversidade é maravilhosa! A nossa natureza é maravilhosa! São lugares impressionantemente bonitos!

Cerrado, trópicos.

E a estampa? A estampa é tipicamente brasileira. Muito colorida. E o patchwork que as artesãs fazem, reunindo várias estampas em um só objeto.

Pode passar.

A chita é um tecido maravilhoso que dá para fazer tanta coisa. É tão simples. É o tecido que as escravas usavam e, agora, virou fashion. É fashion.

Pode passar.

Mulheres Vestidas de Sol – isso é uma grife. Gostei tanto dessas frase. As mulheres brasileiras são vestidas de sol. Elas brilham, emanam por si só.

Pode passar.

A Farm pega a chita e emprega de outra forma, mas dá um resultado fantástico nas estampas.

Pode passar.

Essa também é uma produção feita como se estivessem na praia, mas não estão. Então, olha o colorido das barracas, bolsas. É um ambiente em que se vive, que contagia, de uma coisa boa acontecendo.

Pode passar.

E agora vamos ver as regionalidades. Viajei pelo Brasil todo, acompanhando esses novos talentos, e tive o prazer de ter pessoas, que nunca tinham pegado um avião, e que, através de nossas orientações e consultorias, foram até Paris. Viajaram e levaram os seus produtos, moda, junto com artesanato, com assessoria, e agente está exportando idéias. Então, já era aquela coisa de a gente trazer: tudo o que vem de lá é melhor. Não é. Já era isso. Temos tudo para dar certo. A moda do Brasil tem tudo para alavancar.

Pode passar.

Nordeste. Cada lugar tem seu material próprio para trabalhar.

Podemos ir passando.

Olha que beleza de peças que essas artesãs fizeram. São maiôs, saídas, vestidinhos, carteiras, chapéus, bordados em profusão.

Tudo isso é bordado. Gente, o tempo que se leva para serem feitas essas peças! Essa era a coleção dos passarinhos.

O nosso lindo Villaventura, que não poderia deixar de aparecer: um gênio da moda. Olha o que ele faz com palha do Buriti: uma saia fantástica.

Pode passar.

Centro Oeste.

Centro Oeste faz muito trabalho de recorte e de aplicação.

Pode passar.

Os desenhos, couro, a lã e a crina de cavalo do Sul.

E Sudeste, para a gente fechar.

A Farm fez uma mochila de palha de Buriti. Olha a Beleza! Vendeu a rodo.

O nosso Ronaldo Fraga, de Minas, trabalha espetacularmente. Ele também era Consultor.

E, aqui, ele dando uma oficina de trabalhos com retalhos para as artesãs.

A nossa maior expoente, que faz tudo também em bordados, a nossa estilistas Isabela Capeto.

A Maria Bonita, também, que é daqui do Rio de Janeiro, que faz uma moda excelente, internacional, de nível.

E, no final, fecho com uma coleção que captei do Le Postiche, que veio com bolsas, cada uma fazendo uma menção às Cidades do Brasil.

Vamos ver se vocês reconhecem.

São Paulo, Calçadão, Rio de Janeiro, Minas, muito ouro, cupidos, Bahia, Mato Grosso, nosso country, Ceará, Nordeste.

Então, gente, muito obrigada pela paciência de vocês.

Espero que eu tenha contribuído.

O importante é salientar que a gente tem que instigar as pessoas a pensarem na moda, e a sensibilidade todas as pessoas de que a moda é possível de alavancar negócios e de tirar esse país da crise, porque a moda tem essa capacidade de expressar, não só o parecer, a aparência, mas o ser brasileiro.



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Passo a palavra, agora, à Sra. Coordenadora das Artesãs da Maré, a Sra. Clarice Cavalcanti.



A SRA. CLARICE CAVALCANTI – Boa tarde. Não tenho muita prática com microfone. Então, é um pouco assustador. Quando recebi esse convite para vir aqui falar, achei o tema muito interessante e de extrema importância, porque é tudo o que nós precisamos, nós que trabalhamos com artesanato. É muito importante avançarmos em busca de políticas públicas voltadas para esse segmento do nosso trabalho. Então, uma coisa muito importante é fazer geração de trabalho e renda. É um desafio para qualquer governante fazer geração de trabalho e renda. Agora, quando pensamos fazer geração de trabalho e renda para mulheres de baixa escolaridade, que vivem em comunidades, em extremo risco social, isso piora mais. Por quê? Porque, quando uma pessoa arranja uma faxina, às vezes ela tem que faltar, porque teve um tiroteio que a impediu de entrar na comunidade. Se teve um tiroteio à noite inteira, no dia seguinte ela não tem condições físicas, mentais e espirituais de fazer um trabalho qualquer. Então, foi pensando nisso, em cima dessa questão, que começamos esse trabalho. Quando houve aquela grande crise de 90, que as pessoas deixaram de ter faxineira, passadeira, motorista particular, as pessoas ficaram desesperadas, porque tinham que gerar algum trabalho e renda. Então, pegamos essas pessoas e fizemos um resgate. O que essas pessoas sabiam fazer? E parecia de tudo. Tudo o que a gente pode imaginar as pessoas sabiam fazer. E fomos então, estruturando, sabendo que dificuldades a gente poderia encontrar e onde queríamos chegar.

Antes de vir para cá eu pensei sobre o que falar. Não sabia o que dizer, porque, na verdade, é muita coisa ao mesmo tempo.

Mas sempre tenho a consciência de que a moda é o maior capital intelectual que uma pessoa de comunidade pode ter, porque o capital é o faz uma pessoa girar uma economia.

Lá, a pessoa sabe fazer uma creche, fazer tricô, fazer um bordado. E isso certamente é um belíssimo capital. Agora, o que vamos fazer para fazer essas pessoas trabalharem e chegarem até à venda? Porque não adianta só fazer. Não adianta a pessoa só ser empreendedora, porque ela tem que saber fazer, ter o dinheiro para comprar o material, depois, ter onde vender, e ter onde vender que valorize o trabalho que essa pessoa faz.

Então, antes de continuar, queria passar para vocês um pouco do nosso trabalho, para vocês entenderem o que a gente faz e qual é o nosso percurso até agora, até aqui.



(Exibição de slides)



Esse mostra um pouco das meninas artesãs da Maré. A Luíza, que está ali, naquele cantinho.

Isso são bijuterias feitas com cascalho de pedras semipreciosas, trabalhos em creche. Ali são sementes de Açaí.

Então, nós começamos a fazer todo um trabalho mais em cima do que aparecia para se fazer. Que é outra coisa terrível para quem trabalha com isso: o que vender, como vender, o que fazer? A gente fica um pouco perdida, porque são tantas as possibilidades e a dificuldade não desaparece. Primeiro, fizemos bijuterias; depois, fizemos bolsas.

Isso é um colar feito com restos de linhas, para aproveitamento de restos.

Isso é uma bolsa feita com fitilhos de embrulhar presentes.

Então, além de tudo, a gente ainda tem que ter criatividade para fazer um produto que seja bonito e não seja muito caro.

São sapatos feitos em crochê, botas, sandálias; também broches.

Então, como vocês podem ver, as pessoas dominam as técnicas. À medida que aparecem as oportunidades de trabalhos, o que fazer como vender, a gente ia fazendo, crescendo e enfrentando todas as dificuldades possíveis. Até que chegamos ao Fashion Business. Tivemos um processo de seleção na Firjan. A Heloísa Simão viu o nosso trabalho, considerou que era um trabalho bom e entramos para a Arte Indústria da Firjan. Isso deu uma consistência maior para o nosso trabalho. E conseguimos melhorar, ter mais visibilidade, ter mídia para o nosso trabalho. Muitas vezes, as pessoas fazem um trabalho na comunidade, mas não aparecem. As pessoas pensam muito na Maré, tiroteio, aquela coisa toda, Comando Vermelho, Terceiro Comando e aquelas coisas. Não pensam que lá existem pessoas que fazem um trabalho maravilhoso, que precisam mostrar, que precisam tocar para a frente.

Então, chegamos no Arte Indústria, com o Fashion Business. Depois, fomos convidadas para irmos à França, para fazermos duas exposições, em 2005, no Ano França-Brasil. Fizemos duas coisas lá que foram muito gratificantes, porque, para cada produto nosso havia cinco compradores. Uma lista de espera, porque, como era no lugar onde o Lula ia se apresentar, não podíamos vender até que ele visse tudo.

Foi no último dia, no último minuto. E tínhamos uma lista de espera e as pessoas nas ruas, no Metrô, me perguntavam onde eu tinha comprado as coisas que eu usava. Porque eu estou sempre usando as coisas feitas pelo grupo. E eu tinha que explicar que era no Brasil, na Feira do Lavradio. Então, o trabalho foi ficando mais consistente.

Quando você pensa que você está na Firjan entra o choque, porque o nosso trabalho não pode ser dentro do sistema capitalista, porque os empresários querem lucro, querem muito dinheiro. Então, muitas lojas queriam comprar nossos produtos, até compravam lá no stand do Arte Indústria do Fashion Business. Mas, um dia depois, quando o Fashion Rio acabava, aquela pessoa chiqueréssima, da loja finéssima, ligava e falava: comprei o produto no Fashion Business, mas estava muito caro e preciso que vocês reduzam bastante o preço.

Só que o preço lá, na Firjan, já era o mínimo do mínimo. E as pessoas ficavam impondo para a gente baixar o custo. E, aí, a gente ficava em uma situação muito difícil. Porque aquela pessoa já tinha saído na mídia, já tinha aquela coisa da responsabilidade social, aquela coisa que adoram fazer que é prestigiar as pessoas que têm prestígio. Com isso, ficávamos no desespero, porque a gente não tinha como vender.

Então, resultado: eu ficava revoltada e lógico que saltava o verbo, porque, na verdade, a pessoa queria: “ah, eu pago, mas tem que ter 50% de desconto”. E a gente dizia que não vendia e acabou. Então, a Firjan vinha em cima e dizia: “Ah, Clarice, você não sabe negociar”. Claro, uma pessoa linda, perfumada, ela sabe negociar mais do que a gente que, de manhã, tem que ter dinheiro para comprar um pão para comer. E aquilo foi também dando muito respaldo para a gente aprender.

Então, isso sem contar muitos casos. Vou contar o caso do vestido verde. Esse vestido verde é emblemático. Ele resume todo o trabalho que a gente faz. Quando a pessoa chega ao nosso grupo, ela pode até falar, porque são mulheres depressivas, hipertensas, com uma série de coisas, com a autoestima lá em baixo.

Então, elas chegam ao grupo: “Ah, não quero fazer nada, não acredito em mais nada”. E a gente: “Tudo bem. Mas fica aí só um pouquinho. Depois você vai embora”. E, com isso, a pessoa vai se interessando, vai se enturmando e, depois, fica apaixonada pelo trabalho que se faz. E começa realmente a ser uma artista igual à Luiza, que está naquele cantinho, ali.

Não estou falando o nome de ninguém, Lulu.

Então, resultado, esse vestido verde é emblemático, Por quê? Assim, as pessoas chegam e aprendem alguma coisa, são capazes de aprender. Não temos professores. Uma pessoa que sabe vai ensinando para a outra. Aquele que vai chegando vai aprendendo e vai ensinando a outro. Isso vai criando uma união e, do grupo, vai saindo a produção.

Então, a estória é a seguinte: no começo do começo, a gente fazia panos de pratos. Uma vez, em uma exposição, o César Maia me viu e foram mostrar os paninhos que a gente fazia. E ele disse: “Eu odeio esse trabalho”. Não esqueço isso. Então, nós fazíamos panos de prato. E pensamos: o que fazer depois do pano de prato?

Começamos a fazer esse vestido, que era um vestido onde a gente usa as cores do pano de prato e faz as frutas do vestido. Ele é feito por mais de uma mulher. Umas cinco mulheres podem ganhar um dinheirinho fazendo esse vestido.

A partir dali fomos criando essa técnica de sempre ter um produto que mais de uma pessoa possa fazer, para chegar no final do mês e cada uma ganhar um pouco de dinheiro.

Então, pessoas que não tinham nenhuma renda, passaram a ter. Pessoas que não tinham autoestima construída, que viviam deprimidas, em uma situação muito difícil, passaram a ter um lugar para onde ir. Porque, quando tem muita violência em uma comunidade, as pessoas não se freqüentam. De preferência, elas ficam mais em casa. A partir disso, fizemos um grupo que chamo de “Grupo de Fuxico”, onde as pessoas ficam fuxicando. É muito legal! Então, é um trabalho maravilhoso, mas que, também tem um impasse, que é exatamente a questão da mão de obra. Porque, a partir da Firjan e de outros eventos, muita gente se interessou de pegar o nosso trabalho, como lojas chiques, que querem que a gente faça alguma coisa. Mas se esbarra na mão de obra, porque as pessoas querem pior do que trabalho escravo.

Eu sempre falo: na escravidão, o escravo recebia a orelha do porco e fazia uma feijoada. E hoje a gente não recebe mais o pé do porco, o pé do porco e fazia a feijoada. E hoje a gente não recebe mais o pé do porco e não tem mais como fazer a feijoada. E aí, eu digo: “Olha, você quer que a gente trabalhe abaixo do trabalho escravo.”

Lembro-me muito bem que fomos chamadas a um lugar. Desenvolvemos um pavão, que era para colocar em uma bolsa que ia para a Itália, para onde a pessoa exporta. O pavão ficou em R$ 12,00 (doze reais) com a mão de obra e com a linha. A pessoa olhou e falou. “quero 100, mas só pago dez reais”. “Então, eu falei”. “Tudo bem, mas não vamos fazer, porque a gente vai ficar com uma defasagem, a gente vai trabalhar para você para ficar pobre”. E, realmente, é uma coisa que sucede muito. Então, a partir dali fomos desenvolvendo uma situação de rejeitar muito a exploração de mão de obra. E se dizia: “nós queremos trabalhar com você”. E eu respondia: “tudo bem, você quer trabalhar com a gente, mas como? Como trabalho escravo?” E a pessoa tem um argumento muito forte. Ele fala assim: “mas Clarice, se elas não estiverem ganhando isso, elas vão estar sem ganhar nada”. E eu digo: “prefiro que todo mundo fique sem fazer nada, do que trabalhar abaixo do valor real”. Porque a gente já trabalha com base no salário mínimo. Então, se você vai trabalhar e já fica abaixo do salário mínimo, então, é melhor não trabalhar e ficar sem fazer nada, vendo “Vale a pena ver de novo”, à tarde, na televisão.

Com isso, fomos desenvolvendo o nosso trabalho, avançando, cavando. E percebemos que, dentro do nosso esquema de trabalho, não há outra possibilidade de a gente trabalhar sem estresse, que é exatamente isso que a gente faz que é vender.

Vendemos na Feira do Lavradio e na Galeria Café, em Ipanema. E vendemos em outras feiras pontuais. Hoje, a feira tem autorização, amanhã perde a autorização, e deixa de existir.

Então, acho que precisamos pressionar as autoridades, no sentido de criar políticas públicas voltadas para esse tipo de trabalho. Somos mulheres que precisam ganhar dinheiro. Estamos trabalhando, também, em como educar os filhos. Temos um trabalho com filhos, com adolescentes, temos um banco de preservativos, temos oficinas sobre prevenção de DST, AIDS, prevenção de gravidez precoce, sobre o que é droga, – porque eles não sabem o que são drogas. A gente faz oficina sobre o que são drogas, para mostrar para eles quais os riscos. Temos atividades de agregar, de se fazer um trabalho que deveria ter sido feito pelo Estado. Nada mais justo que a gente lute em um espaço como esse, mas mostrar para as autoridades que elas têm que criar espaço para a gente vender. Tem tantas casas abandonadas que poderiam se transformar em lojas.

Eu mostrei “Artesãs da Maré”, mas, lá, na Maré mesmo, tem um monte de grupos empreendedores. São empreendedores que fazem coisas maravilhosas. Ele estava me dizendo que conhece um grupo lá que vende para a loja e a loja revende caríssimo. É um esquema. O Cantão paga R$ 0,30 (trinta centavos) para fechar uma camiseta. Leva mil camisetas. A pessoa fica super feliz: “pô, to fechando mil camisetas”. Então, a gente vê uma exploração de trabalho, uma exploração de mulheres trabalhadoras, que não precisa mais ser feito nesse mundo. Faz pouco tempo que acabou a escravidão, 100 anos. É um piscar de olhos, em termos de relógio, de tempo. E a escravidão não acabou ainda. A gente vê a escravidão em várias situações, a escravidão afetiva, a escravidão sexual. Precisamos lutar muito contra isso. Porque gerar trabalho e renda é um dever de todos nós. Na hora em que vou comprar uma roupa feita pelas artesãs da Maré, – pouco tempo, a gente teve um entrevero muito grande com um argentino. Porque colocamos em todas as peças o valor do trabalho e ele cismou que a gente estava dando, – aquele vestido que estava lá fora, vermelho com as flores –, que um preço para argentino que era muito mais barato, quando era para brasileiro. Eu falei: se o senhor pensa que é preço para argentino, o senhor, por favor, não leva o vestido, que não estamos interessadas em vender para argentino. Ele ficou muito chateado e foi embora. Mas a mulher obrigou ele a voltar e comprar pelo preço que estava. Eu fiquei séria e não falei mais nada.

Então, precisamos avançar na esfera pública, sensibilizar os governantes. Jandira Feghali, nossa freguesa lá, na Feira do Lavradio, que falava: “quando eu for eleita...”, não sei o quê, blá, blá, blá... Depois que foi eleita, nunca mais apareceu lá na Feira do Lavradio. Estou esperando ele aparecer, porque vou cobrar dela. (PALMAS) Ele comprava bolsa, comprava tudo com a gente.

Concluindo, aqui, porque já falei demais, – tenho uma parceria com Fidel Castro. Então, se torna necessário e urgente. A gente não pode deixar esse fórum parar. Ele tem de avançar. A gente só precisa disso: parceria com o poder público, para ter espaço de venda, seja na feira, na Cinelândia, em qualquer lugar, levantamento dos empreendimentos sociais, planejamento e gestão estratégia dos empreendimentos, continuidade dos projetos, – porque sã todos pontuais, acaba o milho, acaba a pipoca. Tem muito dinheiro e recurso do Fundo de Amparo ao Trabalhador que são empregados de forma irracional e nunca chega para a gente.

Consciência entre os parceiros. O que é moda, o que é trabalho manual, porque isso é um terror. E gestão compartilhada. Trazer universidade, trazer essa academia que tem tanta coisa maravilhosa, para se juntar com a gente. Porque é tudo muito caro. Meu sonho é fazer um curso de moda, fazer uma pós-graduação. Cadê o dinheiro? E espaço público para os empreendimentos?

Acho que, se tivesse isso, ia acabar muito com a exploração de mão-de-obra que temos por aqui.



(PALMAS)



A SRA. MARTA FEGHALI – Tem que fazer moda na Veiga. A gente dá um desconto.



A SRA. CLARICE CAVALCANTI – Ah, já tentei. Mas não consegui a bolsa.



A SRA. MARTA FEGHALI – Porque eu não estava lá, ainda.



A SRA. CLARICE CAVALCANTI – Ah, bom. Vou lá.



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Obrigado. Clarice.

Olha, se alguém ainda não deu o nome, não se inscreveu para o certificado, logo após os oradores? A gente vai encerrar o evento, e os certificados já estão prontos. Se alguém, ainda não deu o nome, por favor, ali, o faça com Dolores.

O último orador inscrito da Mesa depois vai ouvir, – deixa perguntar uma coisa, mauro. Ela tem um vôo, como atrasou um pouco, você se importa de trocar a ordem com ela?

Com a palavra Didi Rezende, representante do Ministério Rio da Cultura, Seminário Nacional da Moda, para usar a Tribuna.



A SRA. DIDI REZENDE – Boa tarde a todos.

Estou mais aqui, para saber se vocês têm alguma pergunta para fazer sobre o seminário. Estou aberta mais para perguntas do que qualquer outra coisa.



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Quem tem alguma pergunta, por favor, no microfone 6.



A SRA. DIDI REZENDE – Este seminário visa fortalecer a economia, a circulação de idéias, de produtos e de serviços, assegurando a plena manifestação das diversidades das expressões culturais. Em função disso, e dando continuidade à pré-conferência de moda é à conferência nacional de cultura, que o Ministério da Cultura está organizando o I Seminário de Cultura da Moda, que vai acontecer nos dias 26, 27 e 28 em Salvador, onde visa instalar o colégio eleitoral, os responsáveis pela eleição dos membros do colegiado setorial de moda, e eleger o colegiado setorial de moda para o biênio 2011-2012. São 15 representantes da sociedade civil com assento no Conselho Nacional de Políticas Culturais, e que vão ser intermediários do governo e da sociedade civil dentro da Moda, no Ministério da Cultura. As inscrições vão até o dia 7 de setembro, às 24 horas. O site para inscrição é: www.culturadigital.br/setorialdemado. Quando você entra no link de inscrição você tem escolher um elo, ou você vai pelo elo “criativo”, ou por “universidades e associações” ou “por região”, mas dentro desse elo “criativo”, “empresa jurídica do setor” e “universidades e associações”.

No dia 9, tem uma comissão que foi estabelecida já nas pré-conferências que vai fazer a seleção dessas 150 pessoas que vão participar do seminário, vão chegar aos seminários como delegados, podendo se inscrever a uma vaga, com direito a voto e a ser votado para saírem esses 15 representantes com assento no Conselho Nacional de Políticas Culturais do Ministério, representando o setor da Moda.

Alguma pergunta a mais?



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Vamos lá. Nome e pergunta.



A SRA. CÂNDIDA SANTOS – Boa tarde. Sou estudante da Rede Pública de Técnico em Produção de Moda, da Faetec. Eu gostaria de saber se esse seminário também está aberto a estudantes.



A SRA. DIDI RESENDE – Ele está aberto à sociedade civil. Agora, não tem como o Ministério, a gente está com umas 1.300 inscrições. Então, não tem como a gente sentar e discutir. Porque nesse seminário também vai ser discutido o Plano Nacional do Setor da Moda, o Plano Nacional de Cultura da Moda. E a partir do momento que você abre muito, dispersa muito. E você não consegue ter um objetivo e traçar planos de curto, médio e longo prazo, que vai ser feito nesse seminário. Então, é complicado. São 150 participantes. Tem uma seleção composta por membros da sociedade civil que vai ajudar a eleger esses 150 representantes. Agora, quem vai ser eleito, realmente, fica difícil falar qualquer coisa. Mas está aberto a todos, e a estudantes, com certeza. Terão estudantes que também vão falar. O Ministério nem tem dinheiro para bancar mais do que 150 pessoas. Já está sendo uma dificuldade fazer todo o processo lá dentro e com 150 pessoas já está bem complexo. Mas é aquela história: participe dos fóruns municipais, estaduais, e devagar você e todos chegam lá. A intenção do Ministério é atender à moda, à cultura da moda, à diversidade. Pode ter certeza.



A SRA. CÂNDIDA SANTOS – Aproveitando o gancho, eu gostaria de falar com Marta Feghali, que falou com nossa coordenadora da Maré, que a Veiga oferece desconto. Mas nós, como estudantes de instituição pública, queremos também de tal qualidade, mas pública, como Senai-Cetiq, a Veiga. A gente vai buscar isso.



(PALMAS)

A SRA. RENATA MARIA LOPES – Então, só para confirmar: dias 26, 27 e 28 em Salvador, mas são 150 pessoas escolhidas em uma banca, a partir do dia 7, com resultado no dia 9. É isso?

Se eu não tiver sido selecionada, posso ir por minha conta ou não?



A SRA. DIDI REZENDE – Calma. É o seguinte: imagina que inscritos da Bahia, de Salvador, tenho 300. A partir do momento que eu abrir para qualquer um, – quer dizer, para qualquer um, – para todos, não terei controle. O hotel não oferece estrutura para eu receber mais de 200 pessoas, que conto com 150 delegados e tem o poder público, que vai participar de alguma forma. O que a gente está pensado é divulgar via teleconferência. Vamos ver se na 5ª feira, divulgamos isso certinho, quando vamos fechar todas as pautas que faltam e transmitir dessa forma. Realmente, não temos estrutura para todos.



A SRA. RENATA MARIA LOPES – Mas irá ser avisado no cadastro, pelo e-mail colocado no contado.

A SRA. DIDI REZENDE – Isso.

A SRA. RENATA MARIA LOPES – Então, a inscrição é no site: www.culturadigital.br/setorialdemoda?

A SRA. DIDI REZENDE – www.culturadigital.br/setorial-moda. Setorial Moda.

A SRA. RENATA MARIA LOPES – Pessoa jurídica ou qualquer outro seguimento?

A SRA. DIDI REZENDE – Ou por empresa jurídica, ou pelo elo de criadores e autores, ou universidades e associações.



A SRA. RENATA MARIA LOPES – Obrigada.



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Mais alguma pergunta?

Então, já me vieram questionar sobre isso hoje. Como na quinta, a gente está vendo tudo que falta para fechar o Seminário, com certeza, vão ter secretarias convidadas, sim. Pode ficar tranqüila. Já estou sabendo de nossa amiga. Vou fazer de tudo para que o setor público esteja no evento.

Tem CNPJ? Se inscreve como associação?

Terceiro setor é terceiro setor. Se inscreve com terceiro setor, entidade. No julgamento, eles decidem.



A SRA. DIDI REZENDE – Exatamente. Como associação e pessoa jurídica do setor. Entendeu?

Como associação. Associações, instituições, ONGs.



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Gente, preciso, então, dar prosseguimento. Alguém tem mais alguma pergunta, quer fazer alguma colocação?



A SRA. DIDI REZENDE – Obrigada.



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Vamos lá. Ficou alguma dúvida? Vamos em frente.

Com a palavra, o Coordenador da Campanha de Atos e Atores Mauro da Silva Lima, Produtor Cultural.



O SR. MAURO DA SILVA LIMA – Boa tarde. A Companhia Atos e Atores é uma companhia de teatro. Quero agradecer à Fátima pelo convite para participar do Fórum e agradecer por estar aqui na Casa, tendo essa oportunidade de falar. Queria, até por conta do tempo, – que acho que já está estourado, vou ler diretamente o que preparei.

Queria pontuar a minha fala em cima de duas questões que se referem ao tema da Mesa, que é diversidade cultural. Então, as questões seriam: diferenças culturais, com formação do conceito de diversidade, e sobre educação para formação.

A inclusão do tema “Diversidade Cultural” ganhou e vem ganhando espaço nas pautas de discussão no campo da cultura, de maneira bastante significativa nos últimos anos, e vem comentando reflexões importantes sobre o paradoxo de um mundo que produz diferenças e práticas culturais, em todo o território global. E, por conta dessas mesmas diferenças, acaba gerando e desenvolvendo intolerâncias das mais diversas também, sejam étnicas, sociais, religiosas ou de gênero. E, no entanto, o fato de a cultura ser um fenômeno vivo, transformador e profundamente humanizador, a sociedade civil organizada tem se colocado à disposição para colocar em pauta a questão da cultura e dar conta das demandas que apontam as necessidades de discutir a cultura como elemento crucial para construção de novos modelos de desenvolvimento humano, como é o caso do Brasil, que, através da Constituição Federal de 1988, coloca a cultura com direito do cidadão, no mesmo patamar dos direitos humanos e abre uma diretriz importante que é a participação popular, na qual qualquer cidadão individualmente ou através de organizações pode opinar ou deliberar sobre políticas públicas de cultura. O Poder Público, com a colaboração da comunidade promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro.

Trazendo essa discussão para mais próximo da nossa realidade, esse paradoxo que envolve a questão da diversidade cultural, ventila duas outras questões, reflexões importantes. Se por um lado as diferenças culturais anunciam possibilidade de construção de novos códigos de convivência, através da garantia de cidadania, da democratização da cultura, do desenvolvimento econômico e da comunicação, por outro, ainda, existe a ameaça de exclusão, da ameaça de retrocesso no processo de construção da pluralidade e da intercultural idade.

A exclusão, nesse caso, passa por diversas fronteiras, como o distanciamento geográfico, elitização da arte, as formas de intolerância, a falta de investimentos e financiamentos em produtos culturais, que estão fora do eixo das grandes cidades, ou nas regiões periféricas das capitais. Quando falo de bens, serviços e produtos culturais a moda já está inserida nesta idéia, porque como existe esse ganho da moda ter sido incluída, ela já está sendo pensada como manifestação artística, como manifestação cultural, todas as vezes que eu me referi a bens, serviços e produtos culturais, produção e gestão cultural, a moda está inserida diretamente nessa idéia.

Essas ameaças de que falei à diversidade cultural expõem outros recortes sobre o assunto. A circulação de bens e serviços culturais é beneficiada pelo avanço tecnológica, pelo progresso da informação, da comunicação, mais a fruição desses bens culturais ainda não alcançou a posição desejada, uma vez que a distribuição, o fluxo e a interação ainda acontecem de maneira desigual.

Os debates internacionais sobre a cultura dos bens e serviços culturais, compreendendo as dimensões simbólicas e econômica vem colocando em evidência a necessidade de criar instrumentos jurídicos, legais e políticos de proteção e promoção da diversidade cultural no mundo. Existem, pelo menos, 40 desses instrumentos que se classificam como acordos internacionais, convenções, protocolos, declarações universais, e, no caso do Brasil, a criação da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, o Novo Plano Nacional de Cultural e a Proposta de Reforma da Lei Rouanet. Além de o Brasil fazer parte do Comitê Intergovernamental da Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, criado em 2007 e integrado por 24 países.

A Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais foi adotada pela Unesco em 2005. Os objetivos da convenção são proteger e promover a diversidade de expressões culturais, bens e serviços culturais, línguas e hábitos de comunidades. É um instrumento jurídico que garante a produção, circulação e fruição dessa variedade de expressões. Além disso, garante aos Estados nacionais o direito de formular e implementar políticas públicas de cultura, a salvaguarda de expressões que estejam em situação de risco grave por meio de acordos de cooperação internacional, a igual dignidade de todas as culturas, o respeito aos direitos humanos e às liberdades de expressão, informação e comunicação. A sociedade civil tem um papel fundamental não só como beneficiária desse tipo de instrumento, mas como parte importante para a implementação dessas políticas. Uma das grandes conquistas da convenção é a afirmação e o reconhecimento da legitimidade das políticas públicas culturais.

E na prática, como podemos nos utilizar desses instrumentos? Participando ativamente dos debates que vêm dar conta das demandas e que colocam a cultura em evidência. Deve ser um compromisso de todos, gestores, trabalhadores, agentes culturais e artistas. Ser artista hoje implica estar ciente de uma condição fundamental: ser consciente de seu papel como cidadão e de sua função política. É necessário que haja discussão e reflexão sobre as políticas culturais para que possam surgir metas de planejamento e ação. Ninguém é artista impunemente. Ninguém faz teatro, moda, dança, circo, música, alheio às necessidades de sua classe. Até porque o mercado sempre filtra os bons profissionais e aqueles que atuam com consciência política e cidadã.

A inserção da moda na pauta de discussões da cultura deve ser comemorada, assim como a criação da Setorial de Moda no plano das reflexões da II Conferência Nacional de Cultura (Brasília, março/2010) porque reafirma a capacidade de identificar o país através de seu processo criativo, da identidade visual e das manifestações urbanas e do interior dos Estados.

Da mesma maneira devem ser comemoradas as prioridades aprovadas na Conferência como a regulamentação das profissões da área de cultura, a destinação dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal para a cultura e o Marco regulatório da Cultura. Essa compreensão de que a moda deve ser pensada como manifestação cultural está muito bem pontuada no manifesto “A cultura está na moda”, assinado pela delegação da moda e que vale ressaltar o trecho:



(LENDO)



“Assim como a cultura está na moda, chegou a hora da moda ser entendida como arte e cultura. O setor da moda representa o quarto maior PIB do país. Neste sentido, queremos ampliar a compreensão geral de que a moda, envolvendo o setor têxtil, pequenas e grandes confecções, indústrias, estilistas, costureiras, bordadeiras e muitos outros trabalhadores, estão ligadas e presente em todos os outros setores culturais através das interações de seus criadores com a cultura popular, a música, a arte visual e digital, a arquitetura, etc. E, por isso mesmo, é atualmente líder em geração de empregos.”



(INTERROMPENDO A LEITURA)



Voltando à aplicação da Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, o Brasil põe em prática o que o documento preconiza quando cuida através da SID, as questões relacionadas às culturas tradicionais, indígenas, dos ciganos, dos quilombolas, da criação do ensino obrigatório da história dos afrodescendentes. É uma caminhada que independente do Governo, da gestão que esteja em movimento, dos acordos partidários, deve ter continuidade. Afinal, esse sempre foi um dos grandes problemas do Brasil, não ter uma política de continuidade de ações.

As moções encaminhadas e aprovadas na II CNC comprovam a confluência da moda com a cultura e sua estreita relação com os diversos segmentos da cadeia produtiva da cultura como as artes cênicas, o cinema, a arquitetura, as artes visuais, o design, etc.

Aproveitando o tema da II CNC, quero pontuar as estratégias que fazem referência aos eixos da Conferência e que vão permitir um recorte para a minha segunda reflexão que é sobre a educação para a formação.

No eixo II (cultura, cidade e cidadania) a proposta é promover a articulação interministerial para formação e qualificação do profissional da moda, fomentar estudos e pesquisas que mapeiem, a partir do território, a intedisciplinaridade e diversidade do setor e potencializar as microregiões com a realização de projetos de moda.

No eixo II (cultura e desenvolvimento sustentável) a proposta é financiar projetos de geração de emprego e renda, promover estudos de mapeamento e fomento de processos sustentáveis na moda com reafirmação cultural em grupos/comunidades por meio de políticas de capacitação, profissionalização e estímulo à produção e à circulação.



(INTERROMPENDO A LEITURA)



Eu trabalho profissionalmente com produção cultural desde 1998. Eu sou ligado á Lona Cultural Gilberto Gil, que é um espaço que integra a rede de teatros da Secretaria Municipal de Cultura, e também administro uma oficina de teatro no Sesc do engenho de Dentro. Quando eu comecei a trabalhar, não tinha muitas opções de cursos de formação, então meu aprendizado aconteceu na prática, observando outros profissionais, perguntando, tentando me informar cada vez mais sobre como funcionava a lógica do mercado cultural. Depois tive a oportunidade de participar de alguns cursos, fóruns e seminários. A cultura é um mercado que ainda está em processo de crescimento, de dilatação, no sentido de absorver profissionais capacitados para realizar ações e desenvolver projetos com conteúdo. Não me refiro aqui ao meio acadêmico que, em linhas gerais, se destina mais ao campo da pesquisa e à realização de atividades que têm um comprometimento com conteúdos mais complexos. Eu falo dos profissionais que estão iniciando ou iniciaram suas atividades há pouco tempo. O nosso tempo, a velocidade da informação, o avanço tecnológico tem impulsionado outros processos de aquisição de conhecimento. Desse modo, os profissionais da área de cultura têm encontrado algumas poucas oportunidades de refletir sobre seu ofício como cursos livres, seminários, conferências. Porque em geral os cursos são caros e a população acaba não tendo acesso a esses conteúdos.



(INTERROMPENDO A LEITURA)



Existem algumas oportunidades; existem seminários; tem a Fundação Getúlio Vargas; tem a Com cultura; têm organizações que promovem isso, mas ainda é muito pouco para atender à quantidade de pessoas. A informação circula, mas não de uma maneira tão ampliada, de uma maneira que possa atender a todo mundo. Por exemplo, quem faz teatro em Santa Cruz, ou quem faz teatro em Itaperuna, ou faz música no interior de Niterói, nem sempre a informação circula da maneira como deve.



(LENDO)



No bojo da discussão sobre o papel do Estado em relação à cultura, vale a pena refletir sobre essa responsabilidade de maneira mais aprofundada. Por que a gestão pública não pode oferecer capacitação profissional na área de cultura para jovens que estão querendo ingressar no mercado cultural? O investimento em estudo na área de cultura é recente, tem pouco mais de 10 anos. No nível de graduação temos três cursos mais conhecidos (UFF, UCAM e Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis, que oferece um curso de Tecnologia em Produção Cultural). No nível técnico somente a Escola Adolpho Bloch tem o curso de Técnico em produção Cultural e Eventos e o Técnico em Produção e Pesquisa Audiovisual. Temos a Escola de Artes Técnicas Luís Carlos Ripper que possui cursos como Administrador Teatral, Produção Executiva, Camareiro, etc.

Faltam ofertas e sobra um grande número de pessoas interessadas em se especializar na área de cultural. O número de pes-soas trabalhando na informalidade já é enorme. Sem os processos de formação/educação/capacitação/profissionalização, o que aumenta é a quantidade de pessoas ocupando cargos públicos e gerenciando espaços culturais sem o devido preparo.

(INTERROMPENDO A LEITURA)



... e conhecimento para isso.

Quem já produziu evento, quem já trabalhou com produção de algum tipo de ação cultural, já deve ter esbarrado com alguma dificuldade, por conta das pessoas que estão gerenciando alguns espaços, e sabe que isso se torna uma dificuldade, às vezes, intransponível, porque se está lidando com uma relação de autoridade.



(LENDO)



Da mesma maneira que existe essa lacuna enorme a ser preenchida em relação à produção cultural, certamente a carência de ofertas de cursos de especialização deve ser a mesma na área de moda. Acredito que só através de processos de formação e especialização será possível pensar em resultados como pesquisa, geração de emprego e renda, processos sustentáveis, formalização de cooperativas ou associações que produzam moda e que possam efetivamente mostrar seu trabalho para sua cidade de origem e além de suas fronteiras.

Voltando um pouco à questão dos instrumentos legais de proteção e promoção à diversidade cultural, existe um outro documento que faz interface com essa reflexão que estamos fazendo sobre processos de educação para a formação.

Existe a Recomendação para Participação e Contribuição das Pessoas na Vida Cultural, de 1976. Essa recomendação foi fruto da preocupação com a formação cultural dos indivíduos, na prerrogativa de criar acessos a mecanismos de fomento para a produção cultural. Com isso, busca-se a criação de condições econômicas para o livre acesso à informação, à formação, ao conhecimento cultural e ao patrimônio cultural de cada país. Entendendo que é imprescindível a abertura de oportunidades para que grupos culturais se expressem, promovendo o desenvolvimento de uma identidade, a troca de informações novos conhecimentos e uma cultura de paz.

Para concluir, é preciso que a sociedade busque se organizar cada vez mais, e saiba pressionar o poder público a favor da população, forjando processos de fomento, democratização e acesso à cultura em todos os seus argumentos. É preciso valorizar os talentos emergentes e criar condições para que eles tomem a cena a partir das suas cidades, que devem ser compreendidas como o espaço primeiro para a implementação das políticas públicas, estimulando a interculturalidade e a pluralidade.

Obrigado.



(PALMAS)



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Pessoal, antes de encerrar o evento, eu quero registrar – isso aqui já está – eu quero registrar, na verdade, uma falha minha, porque isso aqui já está há duas falas, na mesa anterior, na minha frente, e eu quero reparar uma injustiça aqui. Eu quero registrar a presença da Sra. Luiza Marcier, representante da Secretaria de Estado de Cultural. Ela é da Assessoria de Moda da Secretaria Estadual de Cultura. A Secretária, em todos os eventos relacionados à cultura, tem mandado representantes, sempre tem prestigiado nossos eventos. Aí, mais uma coisa para fazer justiça e para dar os parabéns.

Há uma inscrição de tribuna. Vocês vão fazer uso da palavra? Então, por favor.



A SRA. LUIZA MARCIER – Vou se breve.

Primeiro, queria parabenizar a organização do evento. A participação de todos foi, sem dúvida, muito importante para o projeto que a gente está fazendo, de repensar a moda dentro da Secretaria de Cultura.

Queria aproveitar para lançar aqui um projeto, que foi lançado essa semana, mas passar para vocês esse projeto, que é um projeto dentro da Economia Criativa da Secretaria de Estado da Cultura. É um Projeto de Incubadoras de Empresas Culturais. Por isso, acho que tem tudo a ver com o que a gente está falando. São dezenove segmentos alinhados com o eixo do pensamento do Ministério da Cultura sobre Economia Criativa. Dentro desses segmentos, há a moda. Tem sido um trabalho da Secretaria de Estado pensar a moda dentro da cultura, não só na Lei do ICMS, como no prêmio do Estado da Cultura, e agora nesse Projeto das Incubadoras.

O edital está aberto, no site www.riocriativo.rj.gov.br. É superimportante a participação de empresas de moda. Quanto mais gente de moda a gente tiver inscrito, mais força a gente terá para esse movimento dentro da cultura. É um projeto muito interessantes que começa com um curso, e depois desse curso de elaboração de projetos, e projetos a longo prazo, que tem muito a ver com o que a Clarice falou, não são projetos pontuais, são projetos para que as empresas se estruturem para poder depois do próprio projeto da incubadora.

Depois, as empresas selecionadas através desse curso vão ter oportunidade de ficar 18 meses incubadas com uma estrutura de serviços, qualificações, pessoas que vão ficar orientado, e a estrutura de uma sala. Esse projeto acontecendo em dois lugares no momento no Estado do Rio de Janeiro, no porto da Cidade do Rio de Janeiro, e em São João de Meriti.

Então, eu sugiro que os interessados visitem o site para conhecer: www.riocriativo.rj.gov.br e para que os de moda também os divulguem a outros colegas de outras áreas culturais, porque quanto mais gente se inscrever e movimentar é importante para a gente.

Obrigada.



O SR. PRESIDENTE (PAULO MESSINA) – Infelizmente estamos chegando na hora de devolver o Plenário, a gente já passou um pouco.

Queria agradecer a presença de todos, e especial dos panelistas, Robert, a Profª. Maria Feghali, da Clarice Cavalcante e do Mauro da Silva Lima e agradecer pela compreensão de trocar com a menina que precisava pegar o vôo.

Aos que ainda tiverem perguntas, ou que por limitação de horário não conseguiram se inscrever, não tem problema, entregue qualquer pergunta, ou sugestão para nós da Comissão que a gente vai responder, ou encaminhar para algum especialista para resolução.

Hoje eu já digo a vocês o seguinte, vão para casa tranqüila, porque hoje nós conseguimos uma coisa importante, além de fazermos o primeiro Fórum, e aí a participação de todos vocês foi vital para que a gente fizesse esse contato importante e mostrar ao Ministério da Cultura que a Cidade do Rio de Janeiro está pronta para ter a primeira sede do 1º piloto desses projetos importantes de tudo que a gente discutiu aqui, e agora é botar no forro e amadurecer esse trabalho e esse contato aberto. Devemos oficializar por documento o que aconteceu aqui hoje e começar a trabalhar e discutir a implementação de alguns deles no próximo Fórum.

Obrigado a todos e boa noite.

Está encerrado o Fórum.



(Encerra-se o Fórum às 18h25)



RELAÇÃO DOS PRESENTES



Anna Assis, Fernanda Vieira, Silvana das Graças C. de Medeiros, Ana Luzete C. Melo, Natália Silva de Oliveira, Ana Cristina de Faria Silva, Rita de Cássia Silva Brito, Rosangela da Silva Leonardo Melo, Patrícia Maria Moura Geoffroy Ribeiro, Lúcia Ribeiro, Glaucia Diniz Marques, Rafael Nunes dos Santos, Renata Brandão Moura, Júlia de Almeida Calazans, Laisa Bitencourt, Francisco Cesar Tavares, Rosirene de Sousa Carneiro, Rafaela Zanete, Simone Ventura Gonçalves, Jefferson Maria, Marina Giustino, Ana Partira (Centro de Estudo Afro-Brasileiro Iranides Rodrigues), Elza Maria de Medeiros Domiciano, Amanda Souza Cândido, Erica da Costa Medeiros, Elaine bortolanza, Daniela Patrícia dos Santos, Dulce Maria, Regina Helena, Mariana Negreiros, Claudia Maria Guimarães dos Santos Goularth, Silvia Maria Camargo Rocha, Rosane Tavares Rangel, Marluce Abreu de Carvalho, Luci de Souza Furtado, Viviane Martins, Luiz Fortunato, Makota Kizandemu Kiamaza, Clarisse Ferreira Silva, Wagner de Oliveira Silva, Renata Maria, Carla Nunes de Araújo, Luíza Marcier, Jorge Henrique do Nascimento, Adriana Sampaio Lins, Didi Rezende, Afonso Luz, Dolores Lima, Mirian Soares de Freitas, Idalmo Martins de Mello, Jessica Baptista dos Santos, Alessandra de Oliveira, Josina Maria da Cunha, Beatriz Maia de Almeida, Matilde Batista Santana, Leilda de Moraes Vantine, Rita de Cássia Novato, Beatriz da Silva Figueirinha, Iara Oliveira, Dalva Carius da Silva, Célia Assis Soares, Martha Loureiro, Maria Clarisse S. Teixeira, Maria Luíza M. Macedo, Andréia de Oliveira, Rafael Grillo F. de Oliveira, Dhyogo José de Oliveira, Ligia Forny, Luci de Souza Furtado, Nanci Pio Lopes, Ana Elisa S. Santana, Carlos Alberto Jesus Reis, Marta Monteiro Fortunato, Viviane Brignes dos Santos, Bruno Muniz, Fernanda da Silveira Magalhães, Maria Aparecida Teixeira, Sandra Bueno, Jeosanny Lino da Silva, Xenia Peçanha Ribeiro, Michele Leiras, Cristina Seixas, Edmilce Costa Rego de Souza, Geralda de Carvalho, Marcos André Carvalho, Celso Albuquerque, Isabella Correa, Caroline Spagnolo Carvalho, Ariel Silva Holmes, Jana Guinond, Marcella Sardinha dos Santos, Pamela Dias Cardoso, Samara Niemeyer, Leila dos Santos Costa, Rafael Bueno, Rita de Cássia Gomes, Roberta V. Franco, Tânia M. dos Santos, Shirley dos Santos, Cynara Lourenço, Ana Eliza P. de Mattos, Cândida S. dos Santos, Maria da Glória F. Souza, Rosângela Alves Batista, Bruna G. L. de Carvalho, Édson Barbosa de Oliveira, Samantha Nogueira, Christiana Oiticica Braconnot, Ana Maria F. Fioretti, Gabrielle Freire Domingues, Áurea Bezerra, Maria Gomes Lima, Sandra Moura.